Sérgio António Gaspar Vicente é da Malhada do Rei, concelho de Pampilhosa da Serra. Carlos Manuel de Almeida Luís é de Celavisa, concelho de Arganil. São dois amigos, com muita coisa em comum. Beirões genuínos, de qualidade. Ambos vivem na capital, o que não impede que se dediquem ao regionalismo de alma e coração, marcando posição relevante na gerência das respectivas casas concelhias, em Lisboa e, principalmente, na direcção dos seus Ranchos Folclóricos. É de enaltecer a missão destes homens em prol do colectivo, tudo feito por carolice e por amor à causa regionalista, quantas vezes com prejuízo material e familiar. Com que dedicação estes chefes de família se entregam a isto, com que gosto trazem a mulher e os filhos integrados no rancho, para ensaios ou para dançar aos fins-de-semana, com actuações em locais variados. É a paixão pelas origens, pelos costumes e tradições populares, incutindo nos jovens o gosto pelas nossas danças e cantares. A isto chama-se bairrismo.
O Sérgio Vicente e o Carlos Manuel merecem o meu respeito e admiração, por uma conduta invulgar de dedicação, nos tempos que correm. Pela amizade estabelecida por via do regionalismo, por vezes convidam-me para estar presente nas iniciativas que organizam, através das respectivas casas concelhias. A disponibilidade de tempo não permite atender todas as solicitações. No entanto, há dias, respondi à chamada para usufruir (em duas frentes) de uma tarde/noite cultural e recreativa, com sabor a Beira Serra. Primeiro foi na Casa da Comarca de Arganil, em Lisboa, onde, na companhia do velho montefriense Leonardo Costa, fui assistir à apresentação do livro «A Serra e a Cidade», feita pela autora, Maria Beatriz Rocha Trindade, na presença das altas esferas do nosso concelho, designadamente Ricardo Pereira Alves (Presidente da Câmara Municipal de Arganil), Miguel Ventura (ADIBER) e José Dias Coimbra (Santa Casa da Misericórdia). Aliás, diga-se, com agrado, o Professor Coimbra mostrou-se em grande forma e muito bem-disposto, tendo a gentileza, na sua alocução, de referir-se à beleza do nosso Monte Frio. Esta foi boa ocasião para rever e conviver com alguns amigos, regionalistas inveterados, que não perdem uma… e sempre na primeira linha: Mário Pereira Gonçalves (Porto Castanheiro), António Francisco (Sorgaçosa), Alfredo Basílio (Pomares), o amigo e companheiro de escola Albino Gomes (Valado), António Lopes (Piódão), o Ramiro e o Jorge (Sardal) e o decano António Lopes Machado (cuja figura merece, a partir de agora, lugar de destaque, no hall de entrada da Casa da Comarca, através de um painel de fotos sugestivas, referentes à sua acção e longevidade). Contudo, a Casa da Comarca de Arganil sugere-me sempre a imagem do seu maior promotor, o saudoso amigo José Lourenço (Moura da Serra) prematuramente desaparecido. Regozijo-me de ver seu filho, Ricardo Lourenço, tão jovem mas tão empenhado nas lides regionalistas, como dirigente dinâmico e determinado, seguindo as pisadas do pai. Lá diz o ditado: «Quem sai aos seus…»
A segunda fase da jornada cultural/recreativa aconteceu no Pavilhão do Vale Fundão, em Marvila. Um festival de folclore e música popular, organizado pela Associação das Casas Regionais de Lisboa (cujo presidente é o minhoto Francisco Brito). Lá estava o Sérgio Vicente com a sua gente a representar Pampilhosa da Serra, brilhantemente: o Grupo de Concertinas «Serranitos» a abrir o programa e, logo depois, o Rancho Folclórico da Casa do Concelho. E ainda Ruizinho de Penacova, o Rancho de Cinfães, o de Arco de Valdevez e, a fechar, o Rancho Folclórico da Ribeira de Celavisa, com Carlos Manuel e sua gente, em representação do concelho de Arganil. O bar a funcionar em pleno, com bifanas e bebidas, enfim, um dia em cheio. Com os dois referidos bairristas sempre em acção… numa roda-viva.
Maico dos Santos – uma referência
Curiosamente, no dia em que me propus escrever sobre bairrismo, faleceu em Lisboa, com 92 anos, aquele que terá sido uma das grandes referências do regionalismo da beira-serra: Maico dos Santos, figura grada da nossa região, especialmente do concelho da Pampilhosa da Serra, dirigente à moda antiga, generoso, activo e solidário. Durante décadas habituamo-nos a ver o seu nome com destaque neste jornal. Falei com ele uma única vez. Foi no Lumiar. Dizia conhecer muito bem o Monte Frio e vários conterrâneos nossos.
Fui ao velório de Maico dos Santos, na igreja do Campo Grande, onde deixei uma mensagem de condolências, em nome da Comissão de Melhoramentos de Monte Frio.
A corrida do Sporting
Conforme se previa, eu e a minha querida esposa, conseguimos efectuar participação condigna na Corrida Sporting. Aliás, foi mais caminhada do que corrida, porque a idade já não dá para grande esforço. Mas, como dizia, quem vai do Monte Frio até ao Formarigo ou à Malhada, também vai do Estádio de Alvalade ao Marquês de Pombal e volta. Cumprimos os dez quilómetros tranquilamente, em cerca de uma hora e meia. Além disso, caminhar pelas estradas, ruas e túneis de Lisboa, onde circulamos diariamente num trânsito intenso, agora sem tráfego e sem poluição, constituiu uma experiência agradável e invulgar. É gratificante a sensação de cortar a meta em pleno Estádio José Alvalade, recebendo uma medalha e um diploma como participante de uma manifestação desportiva, de cariz sportinguista, com mais de quatro mil inscritos, englobando atletas no activo, antigos campeões e gente anónima de todas as idades.
V. C.