Benfeita

Origem

A origem do topónimo crê-se latina e do século XII. Na Idade Média chamava-se “Bienfecta” que significa “Bem Feita”, mas não está devidamente esclarecido o motivo desta atribuição, embora a sua existência esteja confirmada em documentos datados de 1196.

As pessoas mais velhas dizem que a Benfeita já teve o nome de “Valverde”, devido ao grande número de castanheiros que a rodeavam.

Surgem algumas lendas sobre a mudança de nome. Uma conta que o nome “Benfeita” está relacionado com a construção da capela de Santa Rita, que tinha oito paredes iguais e a consideraram muito bem feita. Outra lenda refere a visita de senhores de um castelo à capela da Nossa Senhora da Assunção que a acharam bem feita.

Dizia-se que existia uma ligação com a origem do nome da aldeia de Monte Frio. Surge uma lenda que conta que os pastores levavam os seus rebanhos para o alto da serra e um dos sítios para onde iam era o Monte Frio. Como no alto da serra costumava estar muito frio, na vinda, os que tinham ficado na Benfeita, perguntavam aos que acabavam de regressar do Monte Frio: “Então como está lá o tempo?“. A resposta era: “Está muito frio“. O que era replicado num tom jocoso e brincalhão pelos da Benfeita: “Bienfecta” (bem feita).

Na freguesia da Benfeita os habitantes de cada localidade têm diferentes alcunhas, no caso da aldeia da Benfeita são conhecidos como os “Balseiros”.

Espaço Físico

A Benfeita é uma aldeia, sede de freguesia, situada no concelho de Arganil, na margem esquerda do rio Alva, atravessada pelas ribeiras da Mata e do Carcavão. Estando classificada como Aldeia do Xisto.
A aldeia situada na Beira Serra caracteriza-se por ser uma região montanhosa, ficando a cerca de 450 metros de altitude na encosta da serra do Açor. A Benfeita fica num vale rodeado pelas cumeadas da Deguimbra, do Monte Redondo, da Picota da Margaraça e da Chama.

A freguesia é composta por nove povoações: Benfeita, Deflores, Dreia, Enxudro, Luadas, Monte Frio, Pai das Donas, Pardieiros e Sardal.

Situada entre Côja e a Paisagem Protegida da Serra do Açor, a Benfeita leva-nos a seguir a Ribeira da Mata, a encontrar a frescura da Fraga da Pena e o arvoredo da Mata da Margaraça.

No recuperado moinho do Figueiral e alambique ainda é possível ver como antigamente se aproveitava a força da água. Existe ainda uma Fonte de Amores e uma Fonte das Moscas.

Na aldeia encontramos um caminho pedestre que liga Benfeita, Enxudro e Pardieiros. Este percurso atravessa montes e vales outrora terrenos de cultivo povoados de pequenas quintas, como é o caso da Quinta da Misarela. A água é uma presença constante, existem ribeiras que nascem na serra e vão encontrar a ribeira da Mata na Benfeita, e a vegetação é rica na sua diversidade (castanheiros, carvalhos, loureiros, medronheiros, azereiros, urze, rosmaninho, carqueja e giesta).

População

O número de habitantes teve ligeiras oscilações ao longo dos anos, devido às crises agrícolas que causaram fome e provocaram um aumento na mortalidade.

No século XX, a causa do decréscimo da população, que se fez sentir de forma lenta e progressiva, foi fruto do êxodo da maioria dos seus habitantes para as áreas litorais do território de Portugal continental e alguns mesmo para fora do país.

A população residente tem vindo a diminuir desde o início da 1ª Guerra Mundial, com a saída de alguns habitantes da aldeia para a frente de batalha em França e para as antigas colónias portuguesas de Angola e Moçambique.

A chegada de imigrantes à aldeia tem invertido um pouco esta situação. Actualmente a aldeia conta com cerca de 100 habitantes, maioritariamente do género feminino.

A maior parte dos habitantes saíram da aldeia para trabalharem, mas regressaram. Os que continuam fora da aldeia mantêm normalmente uma casa na Benfeita e visitam-na regularmente.

Na Benfeita existiu um enfermeiro estimado pela população da freguesia, chamado José Augusto Martins, mais conhecido por Linhaça, que ainda hoje é recordado. Este enfermeiro, autodidacta, percorreu a cavalo montes e vales da freguesia, tentando curar ou confortar todas as pessoas que dele necessitavam.

Outro homem também conhecido foi José Augusto da Fonseca (Benfeita), também conhecido por José Maria ou o Mostarda, barbeiro, que arrancava dentes a quem se queixava de dores.

Simões Dias foi um poeta nascido na Benfeita. A casa onde viveu será transformada num Museu e numa Loja do Xisto da aldeia.

Economia Local (Passado)

Desde tempo remotos que os habitantes da Benfeita pastam o gado na serra, dedicam-se à agricultura (especialmente olivicultura), à construção civil e ao comércio.

Economia Local (Presente)

A Benfeita é terra de hortas, pecuária e olivicultura. Actualmente a principal ocupação da população é a agricultura minifundiária.

Hoje grande parte dos habitantes vivem das suas reformas e pensões sociais. Ocupando o tempo entre a agricultura, as tarefas domésticas, as conversas no café, os jogos de cartas. Por vezes, organizam-se bailes para relembrar os arraiais de antigamente.

Escola

Antigamente havia duas escolas na Benfeita: uma era a escola masculina e outra a feminina. Actualmente não há escola.

Religião

Na Benfeita podemos encontrar a Capela da Nossa Senhora da Assunção, e a Igreja Paroquial que contém a imagem da padroeira da aldeia Santa Cecília, padroeira dos músicos. Existe ainda a Capela de Santa Rita, a Senhora dos Caminhos, o Santuário da Nossa Senhora das Necessidades, a Capela de São Bartolomeu, a Capela do Senhor dos Passos e as Alminhas da Ponte Fundeira.

Tradições

Existem três festas religiosas anuais na aldeia. A festa Santíssimo Sacramento (realizada em Junho) é considerada a festa das crianças que fazem Primeira Comunhão e a Profissão de Fé. A festa da Senhora da Assunção (em Agosto).
Por último, a festa da Nossa Senhora das Necessidades (em Setembro), organizada durante anos pelos mancebos da freguesia que iam à Inspecção Militar, nesse ano. Esta é considerada a festa da freguesia por encerrar o ciclo de festividades religiosas das aldeias da freguesia.

No Carnaval as festas limitavam-se aos bailes, a tocatas com bombos e pratos e um cortejo das crianças da escola que percorriam as ruas mascarados. No Carnaval fazia-se um boneco de palha, que queimavam no dia de cinzas. Nesse dia também decorria a tradição de “queimar o gato”, em que metiam um gato, dentro de um pote, no cimo de um pau, ateavam o fogo na palha até chegar ao pote e o gato fugir.

O Dia dos Compadres comemorava-se na quinta-feira antes do domingo gordo (antes do dia de Carnaval). Consistia numa festa com bailaricos e rifas, nas quais se sorteavam os compadres e as respectivas comadres.
Anualmente é feita a “bênção anual da casa” ou visita pascal, inserida nas festas pascais.

A Feira do Avô, iniciativa da Liga de Melhoramentos, apela ao uso de trajes antigos, recriando costumes e promovendo o artesanato local.

No dia 1 de Maio, chamado o dia da cobra, as pessoas têm a tradição de irem apanhar molhos de giestas para colocarem nas portas e janelas, para afastar as cobras das casas e para as pessoas não passarem fome durante o ano.

A Torre da Paz todos o anos no dia 7 de Maio dá o número de badaladas de acordo com os dias que durou a II Guerra Mundial, ou seja, 1620. Foi por iniciativa de Mário Mathias, “ilustre benfeitense”, que, em 1944, se decidiu construir na aldeia um monumento que anunciasse e celebrasse o fim da II Guerra Mundial, tocando o sino. Foi o que sucedeu, pela primeira vez, às duas horas da tarde do dia 7 de Maio de 1945, quando na Benfeita se soube, primeiro do que em Lisboa, do armistício (um funcionário de uma empresa inglesa, marido de uma habitante da aldeia, telefonou a dar a boa nova). Desde então, todos os anos naquele mesmo dia o sino da paz repica automaticamente por 1620 vezes, o mesmo número de dias que durou a “Paz Portuguesa” – contabilizado a partir do dia em que Portugal se assumiu como país neutral. Todos os anos, na Benfeita, no dia 7 de Maio celebra-se a Paz ao som do sino.

No Dia de Todos os Santos (1 de Novembro) enfeitam-se as sepulturas de familiares. No Santuário da Senhora das Necessidades realiza-se uma feira, onde se comem febras, torresmos acompanhados por boa pinga.

Na noite de Natal é tradição as pessoas reunirem-se junto à capela de Nossa Senhora da Assunção, à volta de uma fogueira que fica a arder durante uns dias.

Nas Janeiras o grupo coral cantava de porta em porta e as pessoas davam dinheiro para ajudá-los.

Gastronomia

Na gastronomia temos como pratos típicos da região: chanfana, arroz de fressura, torresmos e broa de milho. Nos doces a tigelada, arroz-doce e coscoréis.

Bibliografia

CARVALHO, Rui Pais (1994) – Benfeita: uma terra e um povo. Arganil: Comarca de Arganil.
VALE, Fernando (1995) – Arganil e o seu concelho. Porto: Editorial Moura Pinto.
VICENTE, António dos Santos (1995) – Vida e tradições nas aldeias serranas da beira. Montijo: Sograsul.