Chãs d’Égua

Origem

Segundo a tradição popular, a origem do nome Chãs d’Égua deve-se ao facto de, aquando do povoamento romano serem criadas nas chãs, local rico em água e associado à exploração de minérios, éguas destinadas a serem atreladas nos carros de desporto e combate.

Relativamente ao Torno, a origem deste lugar pode estar relacionada com o abandono do Piódão velho. No entanto, foi com a mudança da família Adrião, no final de 1800, que a maioria das leiras começou a ser cultivada.

Espaço Físico

A aldeia de Chãs d’Égua pertence à freguesia do Piódão, concelho de Arganil, que apesar de ser a freguesia com maior dimensão é, no entanto, a menos povoada.

A freguesia do Piódão está administrativamente integrada no concelho de Arganil, distrito de Coimbra, sendo a mais extensa do concelho, mas a menos densamente povoada, com 36,36 km² de área e 224 habitantes (2001). Densidade: 6,2 hab/km².

A freguesia inclui as seguintes aldeias e quintas: Piódão, Malhada Chã, Chãs d’Égua, Tojo, Fórnea, Foz d’Égua, Barreiros, Covita, Torno, Casal Cimeiro e Casal Fundeiro.

Chãs d’Égua situa-se no Vale da Ribeira de Chãs d’Égua, a jusante do Cabeço do Gondufo e das Portas d’Égua. Existem indicações que esta é a mais antiga povoação da freguesia, quer nos relatos de geração em geração, quer pela arte rupestre existente. A sua fundação remontará entre 700 a 1000 anos a.C.

A localização dos povoados ao longo do vale tinha como objectivo conseguirem comunicar gritando uns aos outros, sendo útil para se socorrerem em caso de perigo.

Devido ao declive da aldeia, foi necessário conquistar terreno à encosta, para o cultivo, que são ligados por escadarias em xisto.

Cinco dezenas de pinturas rupestres do Neolítico e da Idade do Bronze foram descobertas na zona da aldeia de Chãs d’Égua.

António Martinho Baptista realizou um levantamento topográfico, de desenho e fotografia, que integra o espólio do Centro Interpretativo de Arte Rupestre de Chãs d’Égua, inaugurado a 22 de Março de 2008.

O Centro Interpretativo funciona na antiga escola primária de Chãs d’Égua, que foi reformulada para o efeito, ao abrigo de uma parceria com a Associação de Desenvolvimento da Beira Serra (ADIBER) no âmbito do programa Leader. Foi o primeiro Centro Interpretativo de Arte Rupestre inaugurado no país.

As visitas guiadas permitem apreciar 100 rochas descobertas, as mais antigas com 4.500 a 5.000 anos.

População

Até à década de 60 a freguesia do Piódão registou um crescimento contínuo da população, a partir daí esta tendência inverteu-se. Em quatro décadas a freguesia perdeu 79% da população, devido ao fenómeno migratório e ao envelhecimento da população.

O desequilíbrio etário nesta freguesia tem vindo a acentuar-se, verificando-se uma maior quebra populacional nos escalões mais jovens.

O envelhecimento reflecte-se no perfil das famílias, sendo que, em 2001, de um total de 108 famílias clássicas, 38 eram constituídas por um único indivíduo e 52 famílias nucleares sem filhos.

Relativamente ao perfil de instrução, a maior percentagem da população (42%) tem apenas o 1º ciclo, seguida de 27% de indivíduos analfabetos e 24% de indivíduos com 2º ciclo.

Embora a emigração para o Brasil, África ou Europa tenha sido relevante, o principal fluxo migratório dos habitantes da freguesia do Piódão foi quase sempre em direcção a Lisboa.

O primeiro momento de forte emigração para Lisboa sentiu-se com o fecho das minas da Panasqueira. Os trabalhos concentravam-se na estiva, na construção naval ou na lota. Nos anos 70 a alternativa a estes trabalhos era a pequena restauração, criando-se uma rede de cumplicidades que condicionava o acesso ao emprego, à existência de relações de parentesco, amizade ou vizinhança.

Actualmente, a desertificação das zonas do interior, afecta praticamente todas as povoações desta freguesia. As populações mais jovens emigraram para o estrangeiro ou para as zonas litorais à procura de melhores condições de vida, regressam às suas origens, sobretudo, durante as épocas festivas para reviver o passado e se reencontrarem com os seus congéneres.

As pessoas das quintas anexas (Eira da Bouça, Barreiros, Covita, Moinhos e Pés Escaldados) eram registadas em Chãs d’Égua, pois não se distinguiam os moradores de um povo e de uma quinta.

Economia Local (Passado)

Na aldeia sente-se o isolamento, mas nem sempre foi assim, pois no alto da serra, por cima da povoação, passava uma das mais importantes estradas do reino, a estrada real, que ligava Coimbra à Covilhã.

Do litoral vinha sal e peixe salgado, para no regresso se transportar queijo, lã e tecidos.

Algumas casas abandonadas que se cruzam no caminho até Chás d’Égua foram testemunho da actividade pastorícia que ali se praticou, tanto de caprinos como de ovinos.

Há muitos séculos, as pastagens da Serra de S. Pedro do Açor, recheada de nascentes, atraíam os pastores Lusitanos que alimentavam os seus rebanhos, criavam éguas e cavalos, no local que hoje se denomina por Chãs de Égua.

Outrora existiu uma oficina de ferreiro. Houve também carpinteiros, alfaiates, sapateiros e pedreiros, serradores, carvoeiros, tanoeiros, ferreiros e cesteiros.

Na colheita dos cereais, como era o caso do centeio e do milho, ajudavam-se uns aos outros. Existiram alguns moinhos de água, que moíam milho noite e dia.

Economia Local (Presente)

Relativamente ao perfil socioeconómico, tendo em consideração a população activa em 2001, 61% pertencem ao sector primário (maioritariamente na agricultura), 21% ao secundário (principalmente construção civil) e apenas 18% ao terciário (quase exclusivamente comércio e actividades relacionadas com o turismo).

Nas clareiras podem avistar-se colmeias, testemunho da actividade apícola, ainda com alguma expressão na região.

Escola

Existia uma escola primária que foi recentemente reformulada para acolher o Centro Interpretativo de Arte Rupestre de Chãs d’Égua.

Religião

Antigamente ao domingo nenhum habitante da freguesia faltava à missa, nem as actividades diárias como a rega do milho e a pastorícia os impediam.

Na procissão que se realiza de dois em dois anos na festa de Nossa Senhora da Conceição, na aldeia do Piódão, estão representadas todas as aldeias (Piódão, Chãs d’Égua, Malhada Chã, Fórnea, Tojo, Foz d’Égua e Torno) através dos mordomos.

Os mordomos iam em caravana percorrer as aldeias da freguesia para fazerem o peditório anual para a igreja, sendo que o mordomo de cada aldeia tinha de alojar o grupo todo. Daqui surgiam relações de amizade entre os mordomos que se chamavam compadres uns aos outros.

Além disto o mordomo de Chãs d’Égua tinha como obrigação acender as velas na igreja do Piódão todos os domingos.

O Domingo de Ramos era um dia muito importante, em que todos da freguesia do Piódão iam à missa benzer o ramo, composto de louro, oliveira, murta e alecrim. Estes ramos eram guardados e queimados em dias de trovoada para afastar a peste. Os ramos de oliveira e de louro serviam para fazerem as cruzes no dia de Santa Cruz, dia 3 de Maio.

Na Quinta-feira de Ascensão, conhecida como o Dia da Espiga, era tradição nas aldeias da Serra do Açor as pessoas irem apanhar um ramo de espigas de centeio, ramo de oliveira, alecrim e flores silvestres, com o objectivo de alcançar a bênção de Deus para os campos, para que houvesse pão, azeite e saúde durante o ano.

Em Chãs d’Égua encontra-se a capela de São João.

Tradições

Chãs d’Égua é uma aldeia de tradições ainda muito vincadas, na qual, a fim de não se perderem os usos e costumes da região, começaram a desenvolver-se programas comunitários.

Pela estrada real vinham caravanas e todo o tipo de viajantes, entre eles famosos fora-da-lei (Zé do Telhado e Oliveira Matos, mais conhecido por Oliveirão). Estes ficaram na memória dos locais.

Gastronomia

Os habitantes consumiam carnes de rebanhos genuínos: ovelhas, cabras e suínos. Produziam azeite e vinho para consumo caseiro, pão de milho, aguardente de medronho e mel.

Bibliografia

BRITO, Célia (1999) – Piódão: Terras do fim do mundo. Maia: Sersilito. ISBN 972-95116-9-1.
PEREIRA, José Fontinha (2004) Piódão, Aldeia histórica, presépio da Beira Serra: histórias, lendas e tradições. Piódão: Edição do autor.
RAMALHO, Paulo (2004) Lendas e histórias do Piódão. Arganil: Câmara Municipal de Arganil.
VALE, Fernando (1995) – Arganil e o seu concelho. Porto: Editorial Moura Pinto.
VICENTE, António dos Santos (1995) – Vida e tradições nas aldeias serranas da beira. Montijo: Sograsul.