Casei-me com 24 anos. A mulher é que era com 25. Vim cá para me casar em Janeiro e depois foi só para Abril. Aqui os padres recebem dinheiro dos casamentos.
Fui vestido com umas calças, um casaco, uma camisa e uma gravata. Não tinha outra roupa. Era um fato preto. Antigamente usava-se. Depois chegávamos a casa tirávamos aquela roupa e vestíamos uma normal.
Ela ia com véu e tudo. Era da cor do pano, branco. Aquilo enfiado no cimo na cabeça, aquelas redes, e o ramo da laranjeira. Agora já não se usa nada disso.
Houve cerimónia. Comêramos dois dias e já não foi pouco. Eram 50 e tal pessoas. Comemos carne assada, carne de cabra, de chibo ou de ovelha, sopa ou canja, cozido, arroz-doce, tigelada e coscoréis. E vinho quanto queria beber. Eram assim as bodas.
Depois fui para Lisboa e a minha mulher ficou na Benfeita. Eu vinha cá passar o Inverno e vinha no Verão, no dia da festa, em Agosto, e depois ia outra vez. Nesse tempo já pouca gente queria campo. Eu passava sem a minha mulher e ela sem mim. Quando vinha trazia-lhe dinheiro e mandava-lhe quando escrevia. Como é que ela comia? Ela também andava a trabalhar, também fazia muitos dias fora, mas era preciso, para criar os filhos. Depois, quando o meu filho tinha 4 anos e a minha filha 2, é que eles foram para Lisboa.