Sei que esta terra existe há 400 e não sei quantos anos. Foi um homem que veio de Côja. Fixou-se aqui, constituiu família e depois, nasceu a terra. Os habitantes daqui têm uma alcunha: são os “Valentões”. Aqui é gente de pulso. Agora já não há, mas antigamente havia cá. O meu pai era um deles. Levantava um ferro com uma mão só, que a malta, hoje, não era capaz com as duas.
As diferenças que existem agora é tudo na maneira de viver. As possibilidades são melhores agora que antigamente. Antigamente, não havia ordenados, não havia reformas, não havia nada, como é que podiam ter dinheiro? Agora, toda a gente tem uma reformazita, grande ou pequena. Tem que chega e ainda faz alguma coisita. Toda a gente é reformada, ganha bem, tem uns tostõezitos. Por mim, está bem assim conforme está. Não se passava como se passa agora. Agora é uma mina. Antigamente, chegava-se à hora do comer e não havia o quê. Hoje, já se sabe o que se vai comer amanhã, no outro dia e no outro dia, se for preciso. Em minha casa, é assim. Eu acabo de almoçar e digo à minha mulher:
- O que é que há-de ser manhã para o almoço?
E ela:
- “Ah! É contigo.”
E eu, é claro, escolho. Escolho o que quero.
Gosto daqui como toda a gente gosta da terra onde nasce. Pode não prestar, mas a pessoa que é de lá, gosta. Para mim presta e para os outros também. Tem ali um largo que não há aqui no concelho de Arganil. Não há aqui uma terra que tenha um largo igual àquele ali. De certeza!
Não fiquei em Lisboa, porque estava farto de lá estar. Tanta vez, acordei ao som dos alarmes dos carros e dos estabelecimentos que andavam a roubar. Estive lá 44 anos. Estava farto! Aqui, estou melhor.