Fui para a praça, que era um serviço mais limpo. Na praça de táxis, já se sabe, aquilo era um emprego de miséria. Ganhava 180 escudos por semana com horário de 12 horas. Era muito não era? Quando me casei ganhava 200 escudos por semana. As mulheres-a-dias chegavam a um ponto em que ganhavam mais que nós. E uma responsabilidade daquelas, que a gente dizia à família “até logo” ou “até amanhã” e não sabia se vinha, se não vinha. Agarrado a um volante não se sabe quando é que vem e se vem. Vai contra outro, vai para uma barreira, vem outro contra a gente e mata-nos. A pessoa que não tem culpa é a pessoa que morre. Eu tenho medo dos outros, não é de mim.
Eu até fui condecorado pelo sindicato de tantas coisas entregar lá. E coisas com valor.
Nessa altura andava-se mais à vontade de noite, que hoje de dia. De noite não havia problemas. Nunca tive problema nenhum de ser atacado. Agora é de dia a toda a hora, num lado qualquer.