Era eu sempre o parteiro das minhas cabras. O parto é fácil. Elas coitadinhas é que fazem o parto por elas, não é preciso ir mexer. A gente é que tem de estar ao pé porque, às vezes, pode vir morto ou elas não os lamberem, não lhe tirarem aquele líquido. Há cabras que comem aquilo e faz mal. Eu sabia quando a cabra ia parir, porque andam cinco meses grávidas, e eu sabia mais ou menos o dia em que a cabra andava com o chibo, porque eu criava chibo todo o ano. Mas eu só os deixava cobrir nos fins de Abril, princípio de Maio, por causo do queijo. Em Maio não presta. É rendado por causa da flor da carqueja e das giestas. Fica mais esburacado e então eu não as deixava cobrir depois dessa data. Era sempre nos fins de Abril, princípios de Maio. Então pariam por volta de Setembro, mais ou menos. Eu contava mais ou menos o tempo e aquilo não falhava, dois, três dias, não falhava. Eu tinha o curral da parte de baixo da minha casa, tinha uma pilha e, de vez em quando, ia lá, mesmo de noite, ver como é que estavam. Às vezes já estavam paridas. Depois tinha de estar à espera, outras vezes quando estava mais frio, uma noite mais fria, levantava a cabra para cima de mim, com as mãos levantava-a, passava-lhe a mão no lombo e depois deixava-a cair de repente. As mulheres quando têm uma criança deitam os restos fora, a cabra e outros animais também. Então fazia isso para sair, para elas não comerem aquilo. Diziam que não fazia bem ao leite. Não sei. Nunca tive esse problema, cabras que me fizessem isso, porque eu estava sempre em cima do acontecimento. Só tive uma vez duas que pariram na mesma altura, uma pariu três e outra só pariu um. Aquela que pariu um como foi na mesma altura começou a lamber, a limpar uma cria da outra e ficou a amamentar os dois.