Quando alguém ficava doente tinha de ir ao médico a Côja. Mas também se podia chamar. Por exemplo, o doutor Cosme veio a Monte Frio muitas vezes aos velhotes. Antigamente nem carreira havia. No meu tempo, a estrada só chegava à primeira povoação, à Portela. Então é claro, o doutor que morreu aqui há anos, o doutor Fernando Vale, ia num burrinho ao Piódão e lá por essas aldeias por aí acima de burro. Não havia estradas, não havia nada. Nem automóveis nem nada. Mas também havia um homem da Benfeita, que não era médico, o José Augusto. Já morreu há muitos anos. Ainda tem o filho vivo, que é o Minas que escreve para o jornal de Arganil. Esse homem era entendido. Dava umas injecções, uns comprimidos e tal, mas à maneira lá dele. Remédios caseiros. A maior parte dos medicamentos eram caseiros. Lembro-me do chá de lúcia-lima, de erva-cidreira, que há muito, e de alecrim. Esses chás era como na tropa, um comprimido dá para curar tudo, e naquele tempo os chás também. Os miúdos, quando tinham otites iam a uma senhora que tivesse a dar de mamar a um bebé, mas tinha de ser rapazinho, menino. Espremiam a mama para o ouvido da criança e era assim que curavam as otites. Quando tinham dores de barriga, aqueciam azeite e esfregavam na barriga da criança.