Contavam na aldeia que havia os lobisomens mas eu nunca vi nenhum. Eu não acredito nisso. Diziam que era um animal que passava e que tinha de correr sete freguesias durante a noite. Diziam que vinha de um casal que tinha sete filhos, sete rapazes. O último a nascer tinha de se pôr o nome de Adão ou então era lobisomem. Se é verdade ou mentira não sei. Aquilo vai em animal, depende do animal que seja. Pode ir em porco, em galinha, em cavalo ou no que for. Para deixar de ser lobisomem, por aquilo que eu ouvi contar, tinha de se estar num sítio onde ele passasse, com uma aguilhada. Um pau que os homens que andam com carros de bois têm, grande que tem um picozinho na ponta. A gente chamava-lhe uma aguilhada. Então tinham que estar com um pau desses à espera no sítio onde ele passasse para o picar. Mas ao mesmo tempo que o picasse tinha de fazer sangue e virar-lhe a roupa ao contrário. Porque se não virassem a roupa ao contrário onde ele deitasse a boca, as patas ou o que fosse, matava a pessoa. Isto foi o que me contavam os antigos, agora como é que é não sei, que nunca vi nenhum.