No tempo em que eu andei na escola éramos 30 e tal. A escola era feita em xisto. Tinha uma sala grande, a sala de aulas, e depois tinha um salão que era onde a gente ia meter as capuchas. A capucha é o género de uma capa que a gente usava por causa da chuva, feita de lã de ovelha. A gente chegava à escola e como ia molhada punha-se lá pendurada. Levávamos uma buchazita, às vezes, quando havia, e lá se pendurava para a hora do almoço. A escola tinha um pátio muito grande onde a gente brincava no Inverno, porque não podia ir para o recreio por causa da chuva.
Escrevíamos numa ardósia. Um quadrado em pedra. Era com o lápis, também em pedra. A gente já comprava isso nas lojas. Também tínhamos lápis e tínhamos cadernos, mas a maior parte das vezes era só nas ardósias que a gente escrevia, porque podia apagar, e no papel já não, ficava borrado e a professora não gostava. Tínhamos uma professora tão jeitosa que há uns anos quiseram-lhe fazer uma homenagem e eu não fui. Há uns dias, na cabeleireira onde vai a minha mulher, ela estava lá e a minha mulher deve ter-lhe dito que eu tinha sido aluno dela, ela levantou-se para me vir falar:
- “O senhor diz que me conhece.”
E eu assim:
- Por acaso conheço e não conheço grande coisa.
Virei-lhe as costas e vim-me embora.