Em 1957 fui para a Carris. Nessa altura, quando fui para lá a gente começava por agulheiro. Era virar as linhas para os eléctricos para o destino que eles fossem. Fazia serviço na Praça do Comércio. Fazia o desvio para os eléctricos que iam para a Ajuda, para Almirante Reis, Alto de São João e para Belém. Depois então, fui tirar a prática de cobrador. Andei uma semana a cortar bilhetes como cobrador e depois fui para tirar a prática de motorista. Foi no dia 28 de Maio de 1957 que comecei a trabalhar de motorista. Mas era autocarros de um piso. Depois passado parece-me que era 3 meses é que começava a treinar com carros de dois pisos. Trabalhei em todas as carreiras da Carris antigamente. Agora está tudo alterado. Era da carreira 1 à carreira 50. Antigamente a gente tinha cobradores que trabalhava connosco. Aquilo era picado com um alicate. Tinha um maço de bilhetes ou de dois furos, 15, 25 tostões, era assim. Uma pessoa dizia para onde é que queria ir e eles arrancavam o seu bilhete e picava-se na zona para onde ia. Um bilhete de 10 tostões dava para duas zonas, o de 15 dava para três, o de 2 escudos dava para quatro e o de 25 tostões dava para a carreira toda.
A carreira que gostava mais era a carreira 23. A que saía do pé do Hospital do Desterro para Algés. A gente saía do Desterro, passava o Luciano Cordeiro, Marquês do Pombal, subíamos às Amoreiras e depois entravamos na auto-estrada, era uma maravilha. Muito gostava eu de trabalhar naquela carreira. Mais tarde, andei 14 anos num serviço de madrugada. Começava a trabalhar entre as duas e tal da madrugada até às dez e tal. Tínhamos sete horas seguidas. Aí já a gente conhecíamos, mais ou menos, as pessoas todos os dias.