O dia do casamento foi uma festa muito grande, que eu tinha muita família. Da parte do meu pai eram sete irmãos e da parte da minha mãe eram 11. Só família, aquilo era muita gente.
Fui de branco, com um veuzinho e um sapatinho branco. Fui de branco e merecido! Uma costureira da aldeia, que fazia as blusitas, as saias e os aventais, fazia também os vestidos para as noivas, como um vestido vulgar. Mas fui arranjadinha, com certeza! O meu marido ia com um fatinho preto, pois naquele tempo os noivos iam todos de preto, uma camisa branca e uma gravata bonita.
Fomos à capela do Monte Frio e depois a festa foi em casa dos meus sogros. A minha mãe, a minha sogra e as minhas tias fizeram a comida. Matava-se duas, três ovelhas ou cabras e faziam um arroz-doce, uma tigelada, uma carne... Tudo nos fornos de lenha! Aquilo cheirava... Algum dia agora se faz uma chanfana como dantes se fazia? Não, não! Nem sabe a chanfana como era dantes! Não havia pai para cozinheiras naquele tempo. Depois houve baile e fados. Foi um casamento bonito.
Quando casámos, não havia trabalho no Monte Frio. As minas tinham acabado e ele regressou a Lisboa. Já lá tinha estado quase desde miúdo. Só veio quando foi para a tropa. Já no fim de casados, ainda chegou a ir outra vez para as manobras. Mas depois acabou a guerra e foi para Lisboa, para uma frutaria de umas pessoas amigas. Ele ganhava pouco e eu estava a pensar que ficava cá, mas não havia hipótese. Depois, então, mandou-me ir. Um num lado e o outro noutro não fazia sentido e foi esse o nosso previsto. Casámos em Agosto e depois, em Fevereiro, fui para Lisboa também. Nessa altura, o meu marido ganhava muito pouco e pagávamos 150 escudos de um quarto. Foi no tempo da guerra. As coisas estavam muito caras e 150 escudos já era muito dinheiro.