O que eu gostava mais na escola era as letras. Hoje já não posso, mas eu lia, lia... Gosto muito de ler. Desde a escola que comecei a ler. As outras não queriam, mas eu fui sempre um bocadito boca aberta para fazer favores. Gosto de acudir a toda a gente, quase desde miúda. Então, fazia cartas para as velhotas que traziam os filhos em Lisboa. Andavam muitas pessoas em Lisboa. Eu tinha domingos de fazer, sei lá, quase uma dúzia de cartas! Uma chamava, outra chamava, e eu, ao domingo, não tinha quase um bocadinho para nada. Já era rapariga crescida e passava o dia a escrever para os filhos destas velhotas. Elas não sabiam ler nem escrever. Eu, pronto, lia-lhes as cartas e ajudava. Isso ajudou-me muito, porque nem todas as letras são iguais e algumas eram ruins de perceber. Muitas cartas, que de lá escreviam, davam a ler a outras pessoas. Mas chamavam-me para ler. Eu gostava muito de ler.