Para a dor de cabeça arranja-se um chá para tirar a dor. Não havia xaropes, faziam chá de erva cidreira, de laranjeira ou de limoeiro ou assim de ervas que havia. Curava-se até estar bom. Antigamente não era assim como agora. Os doutores não eram como agora. Chamava-se a casa e eles:
- “Toma lá isto. Vai-te embora.”
E curava, agora não, agora:
- “Ai... Agora dói-me aqui, dói-me ali, dói-me isto.”
Aqui não há médico nenhum. Até havia aí dois barbeiros, dois médicos. Isso já morreram há mais de sei lá quantos anos, desde que lhe chegou a morte. Curavam com chás. Também havia umas ventosas, que eram uns copos que se tinham para aí. Uns copos que havia altos e redondos. Aquilo colava e chamavam ventosas. Tinha aí um que arrancava os dentes com um alicate desses cheios de ferrugem. Já morreu há tanto ano, mas ele ainda era inteligente. Uma vez, andava a apanhar azeitona para ele ao pé do cemitério e disse:
- Onde é que você vai Zé Maria?
- “Vou ali ao tio Joaquim Prata. Ele está muito mal, então vou lá vê-lo.”
Depois eu:
- Então como é que está o tio Joaquim?
- “Carlos, olhe que ele não pode durar até às onze horas da noute. Onze horas e ele morre.”
E morreu, o velho. Arrancava os dentes com o alicate, com a turquesa cheio de ferrugem. A sangue frio. Fosse agora... Desinfectar? Só os burros é que se desinfectam. Não era preciso desinfectar. Iam aos bagaços, ficavam logo bons.