Tinha 17 anos quando fui para o minério, nas Minas da Panasqueira. Trabalhei lá dois anos e a minha mãe ainda lá andou antes. É uma história muito engraçada, porque o meu marido também andava lá no minério, nos Cortes da Barroca Grande. Mas minha mãe não me deixou ir primeiro, porque ele andava lá. Quando veio para a tropa, é que ela me deixou ir para o pé de umas tias minhas e de muitas mulheres da aldeia que andavam naquele negociozito do minério.
Naquela altura, andavam os mineiros dentro das minas. Bem, não eram mineiros de profissão, mas aprendiam, minavam e andavam a encher a pedra. Cada mina tinha o seu patrão e eles escolhiam o minério para umas sacas, para os patrões. Depois o cascalho, a terra que já não tinha nada, traziam para fora e deitavam para as entulheiras. Da Barroca Grande furavam as serras para o outro lado e, então, subiam com os carros cheios de terra e de cascalho e vinham despejar fora. Estava tudo carregado. Então nós, muita mulher, muita rapariga, é que aproveitávamos aquela terra para umas cestas. Andávamos sempre a mirar a ver se havia alguma pedrinha de minério, nem que fosse pequenina. Era aos grupos. Juntávamos seis e sete colegas aos grupos. Umas acartavam, outras lavavam e outras estavam com uma fogueira acesa a lavarem o minério numas baciinhas com água. O minério, como era pesado, assentava no fundo do alguidarzito de alumínio e era seco em cima de uma rede. Então, juntava-se e todos os dias se ia levar. Conforme a gente ajuntava uma mechinha, passávamos pela casa da guarda e íamos lá pôr numa saca. Cada saca tinha o nome do seu grupo. Depois, no fim da semana, no fim do mês, vendia-se e dividia-se o dinheiro pelos outros e por nós todas.