Actualmente

Compráramos umas terrinhas, com a ajuda dos meus filhos, que também já ganhavam. Foram para Lisboa e mandavam-nos dinheiro. Mandaram-nos arranjar a nossa casinha, que era muito diferente quando a gente a comprou. Só tinha um quarto, a salita e a cozinha. Casa de banho não havia. Era na rua. Íamos para os quintais fazer. Agora tenho quartos, casa de banho, marquise, sala, tenho outra loja em baixo também, com uma cozinha e uma lareira. Naquele tempo era só miséria, só miséria. Chegávamos a ter frio na cama, nesse tempo, que não tínhamos roupa para pôr como devia ser. Tudo assim. Foi uma vida de escrava. Então agora eu trabalho porque preciso de trabalhar. Mas também gosto de trabalhar. Tenho as minhas terrinhas. Gosto de ter as minhas cebolitas, as minhas batatas, os meus feijõezitos. Mas às vezes ando a trabalhar e as lágrimas a cairem-me pela cara abaixo porque não tem a gente saúde para poder trabalhar. Se não fosse a reforma era um caso sério. Isto agora é um paraíso. É um paraíso! Tanta miséria, tanta miséria que se passou.