As levadas de água servem para regar os milhos. Há uma que até vem de longe, para aí 2 quilómetros lá de cima, dessas serras.
Cada um tem o seu dia para regar. Eu até tenho umas oliveiras e umas coisas e tenho aquelas horas para regar. Por exemplo, da meia-noite até às dez da manhã, ou até meio do outro dia. De noite também se regava. Mas naquele tempo não se via cá céu, não se via nada. Era tudo às escuras. Era com umas lanternas, para tapar a água e só se via aquela luzita, parecia que eram as bruxas com aquelas lanterninhas por aí abaixo. As candeias funcionavam a azeite.
Ia regar com o meu pai. Íamos lá de noite regar. Pegava-se à meia-noite e era até ao outro dia. Chegava à altura, por exemplo, era meio-dia, a pessoa que era essa a hora dela ia e cortava para a terra dela. Cada um tem o seu dia, as suas horas. Ainda hoje é a mesma coisa. Há aqui uns que ainda regam, aqui no povo, mas têm as horas deles. Se não fosse assim havia aí tipos que apanhavam a água e andavam todo o dia com ela, nunca mais a largavam.