O Inverno era mais rigoroso que agora. Tinham que deixar ficar uma enxada detrás da porta, à noite, para de manhã abrir carreiros pela neve para irem tratar dos animais. Na altura, todos tinham cabras e ovelhas. Era curioso que a neve fora do carreiro, que não era pisada, não levava muito tempo a desaparecer. Aquela que era pisada - na altura por tamancas e tamancos de brocha - estava uma data de tempo a derreter. É verdade! Ou era por ser pisada ou não sei. Entranhava-se na calçada, levava ali um tempo enorme. Ficava ali sempre encaramelada. Também nos terrenos que traziam a água para emparedar, para dar pasto ao gado, aqui pelos cômoros abaixo, fazia cordões em vidro. O frio era tanto que a água não caía em líquido. Fazia cristal. A gente ia para lá entreter-se com umas pedras. Atirávamos àquilo para o botar abaixo. Os que tinham mais jeito faziam bonecos de neve. Outros entretinham-se aí nos terrenos. Começavam a enrolar e a fazer bolas. A gente, às vezes, já não as podia mover. Ia enrolando, enrolando, enrolando... Quando não podíamos com ela, mandávamos para baixo para a rua. Ficava ali uma data de tempo sem que derretesse. Era uma bola tão grande que nunca mais derretia.