Há uma lenda que diz que dois irmãos - um irmão e uma irmã - da zona da Serra da Estrela mantiveram relações. Quando ela viu que estava com a barriga cheia:
- “Vamos embora, senão o pai mata a gente!”
Vieram por aí fora, para fugir à família, desde a Serra da Estrela até aqui, através de muitas terriolas. Encontraram bons terrenos e boa água ali em baixo junto ao Torno num sítio denominado Casas do Piódão. Instalaram-se aí. Depois, foram a uma nascente bastante longe. Na altura, não havia canos. Trouxeram a água através de caleira de telha. Mas como lá era um sítio muito quente, a formiga atacava-lhes o mel. Eles viviam muito de mel. Como não havia pesticidas para as eliminar, saíram e instalaram-se aqui no Piódão. Aqui é que eles achavam que estavam bem. Começaram a vida deles. Tiveram muitos filhos. Houve uma quantidade de crianças. Como cá não havia mais ninguém, foram casar nas aldeias aí próximas. Os rapazes foram arranjar raparigas e as raparigas arranjar rapazes. Isto foi formado praticamente só com uma família. Ainda no tempo do meu pai há cem ou cento e tal anos, isto era constituído por três famílias só: os Lopes, os Gaspar e os Fontinha. O resto veio tudo de todas as terras aqui em volta. Veio para aqui quase uma povoação de imigrantes. Mais tarde, foram à terra deles. Lá, muito admirados, perguntaram-lhes:
- “Então? Vocês ainda são vivos? Onde é que vocês foram parar?”
- “Fôramos parar ao pior do mundo!”
E daí nasceu o Piódão. Ninguém tem a certeza se foi assim, mas tudo indica que sim.