Depois, começaram aí na agricultura. Viviam só da agricultura.
Na altura em que se fazia aquela romaria das Beiras, quase até Fátima, passava muita gente aqui no Vale de Maceira, perto de Oliveira do Hospital. Ia tudo a pé, aí pelas serras para ir à festa. Os Adriões fizeram uma tascazinha nas Casas de São Pedro, lá para cima. Ainda lá estão os vestígios do barracão. Os pastores, que andavam por aí a guardar o gado, vendiam água quando eles passavam. Água e aquelas latinhas de litro de leite que usavam para a merenda deles. Ordenhavam as cabras, enchiam de leite e vendiam às pessoas que passavam.
Mais tarde, vieram as Minas da Panasqueira. Esta gente da aldeia ia tudo lá para as minas. Depois, vieram abrir os túneis daqui da ribeira do rio Ceira para a barragem de Santa Luzia. Matou a rapaziada nova toda. Morreram os homens todos com 20 e poucos anos, 30 anos. Foi tudo à vida. Eles, hoje, para fazerem as perfurações com os martelos e os compressores, já usam água para amassar o pó. Na altura, aquele pó ia todo para os pulmões. Todas as raparigas com 20 e 30 e poucos anos, ficaram viúvas. Morreram todos com a doença denominada silicose. Com o tal pó que se acumulava nos pulmões.
Os túneis, depois, acabaram. As Minas da Panasqueira também falharam um pouco a partir de 1944. A malta, a nossa gente foi toda para Lisboa. Emigraram para a margem daqui. Quando a Lisnave foi para o outro lado, é que mudaram. A nossa gente está quase toda na Margem Sul, devido aos empregos que tinham lá. Para ir para lá, pediam dinheiro emprestado, 100 escuditos. Assim que arranjavam lá os cem escuditos para dar a quem os pedia e trazer outros para cá, regressavam. Não eram muito gananciosos. Tornavam a vir para o pé das mulheres passar mais uns dias. Primeiro, iam para burros de carga! Para a estiva e para os armazéns alancar. Não tinham habilitações, não sabiam uma letra, não sabiam nada... era só para a carga. Aquilo era difícil e um bocado doloroso. Andar de manhã até à noite em cima de uma prancha, para trás e para diante, a tirar os sacos do arroz, do açúcar, o carvão lá para a antiga CUF. Quando a maré estava cheia, ainda estava a prancha mais ou menos plana. Quando a maré estava vazia, era mesmo uma inclinação de 95 graus. À noite, ficava tudo estoirado! Hoje, não. Hoje têm a vida melhor. Os filhos e os netos desses primeiros, praticamente, está tudo estabelecido. Foi quase tudo para as pastelarias, leitarias e restaurantes. Eu tenho um filho que tem uma pastelariazinha no Seixal, junto à Câmara. É a vida que eles agora vivem. Queixam-se muito, mas a vida agora é diferente. Já não há ninguém debaixo da carga, como antigamente. Também já não há estiva. Agora, há os guindastes e as máquinas para carregar isso. Temos também alguns, poucos, na França e na Espanha. No Luxemburgo é que ainda está uma comunidade grande. E por lá continuam.
Hoje estão aqui à volta de 40 postos de trabalho, mas não é ninguém cá do Piódão. Quando abriram estes postos de trabalho, a nossa gente já tinha os seus empregos noutras localidades. Estão 14 empregados lá na estalagem. Não é ninguém de cá. Estão três empregadas no Centro de Dia. Ninguém do Piódão. Estão aí duas engenheiras, que não são de cá. Está uma empregada no Turismo, não é do Piódão. Está uma empregada no Museu, não é do Piódão. Metemos uma funcionária na igreja, também não é do Piódão. Estão aí cinco rapazes ao serviço da Câmara e da Junta e estão mais cinco na Associação de Compartes. Sapadores florestais para vigiar os fogos. Nada cá do Piódão. Do pessoal dos restaurantes, ninguém é cá do Piódão. É tudo pessoas das aldeias aqui próximas. Há aí muitos postos de trabalho. Aqui não há desemprego.
E assim vai andando o Piódão. Hoje tem muito movimento. Em Agosto, há dias que vêm aí quatro e cinco autocarros! A Câmara assinou um protocolo com uma empresa para virem cá dois ou três autocarros diariamente. Este ano parece que ainda não fizeram esse contrato. As massas que se aí vão arranjando vem tudo dos turistas. Aqui vivem 50 e poucas pessoas, tudo com mais de 60 anos. Tudo no fim da idade.