Eu namorava aí uma rapariga. Namorava... Escrevia! A gente não namorava. Eu estava em Lisboa e aquilo era por carta. Gostava muito dela. Um dia, lá na casa de malta, eu estava a servir-me com o garfo do pai dela. Não sei de que falámos, mas eu disse assim:
- Estou aqui a servir-me com o garfo do meu sogro.
Que não era. Eu só escrevia à filha. Ele diz assim:
- “Eh, para aturar rapazes, tenho lá cinco!”
Tinha cinco filhos em cada terra! E eu engrenei com aquilo e deixei de escrever à rapariga.
Vim aí passar uns dias e a minha mulher estava na fonte a encher água. Na Fonte dos Algares. Eu estava em casa do meu padrinho Herculano. Vi-a pelas costas e disse assim:
- Quem é aquela rapariga?
- “É a filha do Zé dos Santos.”
Fui lá ter com ela e perguntei:
- Queres namorar comigo? Queres casar comigo?
Tomara ela logo que fosse já naquele dia! Depois, fui para Lisboa. Comecei-lhe a escrever e pronto. Mais tarde, marcáramos o casamento.