Os lobos eram ali numa quantidade formidável! Houve um dia em que me mataram nove chibos, de um ano. Já grandes. Não dei por isso. Ele andava na encosta e eu andava no alto onde era mato “roçadiço” e carqueja. Estava à espera que elas viessem de um giestal para fora. Andavam na flor da giesta. Aparece-me um lobo com a língua de fora e uma grande cabeçorra, todo cansado de andar a matar os chibos sem eu dar por isso. Eu levantei-lhe o capucho. A gente levava sempre um capucho para pôr pela cabeça, quando estava frio. Levantei-lhe com aquilo:
- Oh, ladrão!
Ele tornou-se a meter para as giestas.
A povoação era logo em frente. O patrão ouviu e foi lá ter comigo. Eu, ora contava mais, ora contava menos as que faltavam. Fiquei tão atrapalhado! Uma vez contava 70, outra vez contava 40, outra vez contava 100... Ele apareceu lá com a espingarda, contou e disse:
- “Olha, são nove que faltam. Nove chibos que faltam.”
E foi-se embora. Não disse mais nada. Eu lembrei-me que eles à noite ralhavam comigo ou diziam qualquer coisa. Encaminhei as cabras para os currais - que eles estavam à espera delas para as meterem -, mas fiquei lá escondido até eles se irem embora. Também não vieram à minha procura. Meti-me num palheiro e ouvia lá os lobos:
- “Oooooooohhhhhh! Oooooohhhhh! Ooooohhhhhh!”
A chamarem-se uns aos outros para irem fazer a colheita. Eles matam, matam, matam e quando têm tempo livre é que vão comer e enterrar o que não comem, para o outro dia. De madrugada, levantei-me e vim pela serra fora. Eles podiam apanhar-me. Vim para aqui.