Fui à inspecção em 1945. Havia aquele regime - hoje acho que já não há - que não sendo preciso ir e pagando seis anos de taxa militar, ficava nos serviços das tropas territoriais. A taxa equivalente a seis anos. Se houvesse uma mobilização, eu ficava sempre cá a prestar serviço nas tropas territoriais. Nunca íamos para fora. Mas nunca fui chamado. Estava um irmão meu em Coimbra que disse que eu era para ir para Abrantes. Se fosse chamado, ia para Abrantes. Na altura, paguei 30 escudos por ano durante seis anos. Seis vezes três, paguei 180 escudos. Fiquei isento até hoje. Com 83 anos, agora, já ninguém me quer. Houve um indivíduo da minha idade que pagou logo oito anos. Depois de seis, aumentaram para oito anos. Eu paguei seis e ele queria reembolsar os dois anos. Ainda fui à Calçada do Livramento, ao pé do Palácio das Necessidades, ao Centro de Mobilização:
- Um rapaz, meu amigo, pagou oito anos. Era para reembolsar dois anos...
- “Não, pá! Isso foi inutilizado em selos. Não há reembolso nenhum! Se foi maluco, que não fosse. Agora, olha, foi quanto perdeste!”
- Então porquê?
- “Então, aquilo é inutilizado em selos, aquilo não tem salvação nenhuma.”
E assim se contou a vida. Depois, fui então para Lisboa, em 1946, com 21 anos.