Nessa altura, tive sorte. O António Campos, deputado lá do Parlamento, que é aqui da Lajeosa ao pé de Oliveira do Hospital, era afecto ao Partido Socialista. Ofereceram-nos uma viagem para ir visitar o Parlamento Europeu e o campo de concentração durante uma semana. A minha família não queria que eu fosse, porque já tinha idade e por causa do calor. Aquilo é um esticão. Saíramos daqui, ficáramos a primeira noite em Bordéus, na França. De lá, foi uma directa de 800 e tal quilómetros até ao Parlamento Europeu. Puseram-me sentado na bancada com uns auscultadores para ouvirmos a tradução. Quando entrámos, estava aquele deputado, o Rosado Fernandes, afecto ao PP, como orador. Lembro-me bem do que ele estava a dizer: o tabaco fazia mal e ao fim e ao resto era comparticipado. Estava nessa intervenção.
Depois, um deputado, um rapaz ali do Algarve, serviu de guia para visitarmos o campo de concentração. Aqui o Presidente da Câmara tinha-me dito:
- “Olhe que para ir ver aquilo é preciso um bocado de estômago, que aquilo é horrendo.”
E era horrendo. Como eles ali eram torturados. Metiam-nos em prateleiras para os fuzilar. Tudo vedado com arame farpado e electrificado. Quem ficasse ali, ficava logo desgraçado. E as cargas que eles levavam... Até o chão é inclinado para quando sangrasse, juntar o sangue em baixo. É horroroso. Lá está também o cemitério do desconhecido. Ninguém sabe os que estão lá. Sabem que estão lá aquelas pessoas, mas não sabem se era este, se era aquele. Aquilo ficou destruído de tal maneira que é mesmo horrível.