E faço aguardente de mel! É extraída do mel. O que vai dar o gosto, o aroma à aguardente é a cera. O mel é bom se for velho, mas tem de ser adicionado ao novo com a cera para poder ferver. Se puser o velho sozinho numa vasilha já perdeu a acção. Em vez de fermentar, acaba por azedar. Portanto, é posto numa vasilha a fermentar. Em três, quatro dias começa a ferver. Nota-se que está a ferver quando começa a fazer uma chiada. Está ali à volta de um mês. A gente vai vendo com um aparelho até chegar a zero. Ou então, até por escuta, vê que está pronto a ir para o alambique. Depois, é como a aguardente de medronho ou do bagaço. Vai para o alambique, para a caldeira e faz-se fogo, à antiga. Estando a ferver, põe-se a cabeça na boca do alambique. Estão ali pendurados. Depois, há uma peça - chamam-lhe mesmo o nome da cabeça - que enfia ali. Tem uma cúpula por cima que forma a cabeça. Na cúpula, sobe um tubo para fazer a ligação ao outro tubozinho que passa pelo depósito de água antes de ir para a vasilha. A gente põe-lhe um bocadinho de barro em volta para não perder vapor, que o vapor é aguardente! Esse tubo passa através de um pequeno tanque que a gente chama de “dornalho” que tem uma quantidade de água para fazer o arrefecimento. O vapor passa através do “dornalho” e transforma-se em líquido. Põe-se uma vasilha a aparar. Normalmente usavam vasilhas de barro. Nunca punham zinco, nem alumínios, nem nada, que isso larga aquelas impurezas e faz mal. O barro, não. O depósito também é vedado. É posto o tubo e é vedado para depois não cair nada juntamente para a vasilha. Mas tem que se ter cuidado! Se for aguardente de medronho ou de bagaço, pode deitar uma bica grande que não tem muito problema. Mas a aguardente de mel é muito melindrosa. Tem de ser uma biquinha muito pequenininha para ser de boa qualidade. Se for em muita quantidade, não presta para nada. É tanta a força, que em vez de sair só o vapor que produz a aguardente, também acaba por passar água. Qualquer aguardente que comece a deitar muito pelo cano, nunca é de boa qualidade. Às vezes, até traz um bocado de fumo. Chamam-lhe aquilo “esfogueirada”. Fica esquentada. A gente vai-lhe regulando a fogueira conforme ele vai deitando. Se deitar muito, a gente tira-lhe o fogo para começar a deitar pouca quantidade. Tem que ser com uma fogueira controlada. Posso pôr uma fogueira grande até ela ferver. Assim que ferva, tem que ser só o borralho, até quase apagado, para chegar só àquela temperatura e deitar aquela bicazinha. Toda a aguardente carece dessa atenção. Perde-se muito tempo, mas tem que cair uma bicazinha muito pequenininha para sair de boa qualidade. Depois engarrafo. Há quem venda aos cinco litros, há quem venda à garrafa de litro, há quem venda em quantidades. Antigamente, tinham aí muita. Antes de isto arder.