Os santos da aldeia são o São Pedro, a Nossa Senhora da Conceição e o Sagrado Coração de Jesus. Bem, estes são os padroeiros, mas há mais santos na igreja. As festas dos padroeiros eram mais ou menos como agora. Havia sempre música, mas a gente é que tinha de dar o comer quando cá vinham tocar. Vinham de longe. Chegaram mesmo a vir de São Gião, da Aldeia das Dez e do Sobral de Casegas. Tocavam na missa e na procissão. Era uma procissão bem linda! Saía da igreja, ia pela rua de baixo até ao cemitério e depois voltava outra vez pelo mesmo percurso. Nós, as mulheres, tínhamos que enfeitar os andores. Fazíamos flores de papel e depois púnhamos nos andores, em toda a volta. E os homens, depois, levavam os andores na procissão.
Quando eu me criei, também faziam três dias a romaria das ladainhas. Faziam uma vez na igreja, outra vez na Capela de São Pedro e outra vez íamos em procissão a Chãs d'Égua. Era o senhor padre e a gente também a rezar e cantar.
O Natal, antigamente, era como os outros dias. No largo faziam uma fogueira. Faziam o comer e depois a rapaziada juntava-se e comiam por lá. Mas em minha casa o Natal foi sempre o Natal de todos os dias. Não havia cá festas como agora fazem. Era como havia de ser todos os dias e não só no dia de Natal. Depois, em Janeiro, éramos nós, os miúdos, que andávamos aí por a rua com um saquito na mão a pedir:
- “Dê-nos as Janeiras, dê-nos as Janeiras!”
Conforme se podia, dávamos alguma coisita. Outros não davam nada.
Pela Páscoa vinha o senhor padre dar as boas festas. A gente punha o folar na mesa, mas não havia mais nada. Quem tinha afilhados dava-lhe o folar. Mas eu nunca tive folar, porque os meus padrinhos eram meus irmãos e não mo davam. Mais tarde, quando é o dia 3 de Maio, que é dia de Santa Cruz, a gente põe as cruzes nas portas com o loiro bento de Domingo de Ramos. Dizem que quando está aquela cruz com o louro bento que não caiem as trovoadas e não há tantos prejuízos. Eu costumava fazer isso e ainda tenho uma cruz na minha porta. Se resulta, Deus é que sabe.