No dia da matança do porco vinham dois ou três homens, conforme era preciso. Iam à loja, agarravam no porco e punham-no em cima de um banco - uns bancos compridos que havia próprios para isso - com uma corda. Depois vinha o sangrador que lhe espetava a faca. Então, havia uma senhora que ia com uma gamela aparar o sangue, para se aproveitar. Cozia-se logo num caldeiro ou numa caldeira um bocado de sangue para se comer. O resto que não se cozia, era para fazer enchido de sangue. E era bem bom! Quando os homens abriam o porco, aparavam as chouriças. Depois as mulheres faziam a parte delas. Estremavam as chouriças numa gamela e iam lavá-las à ribeira. Lavavam-se mais que uma vez, que duas e que três. E depois é que se preparavam para se encherem, para se fazerem o enchido.
A carne do porco tinha que durar para o ano todo! Salgava-se na salmoira - uns diziam que era salmoira outros diziam que era salgadeira - e o enchido era seco. Em estando seco, também se punha numas panelinhas com azeite. E ali também se aguentava para a gente ir comendo. Ia-se tirando conforme era preciso. Tinha que se orientar para todo o ano. Que remédio! E guardava-se sempre um bocadinho de carne, um chouriço ou uma chouriça boa para se comer no dia que se matava o porco para o outro ano. Conforme as pessoas, havia quem matasse dois. Mas agora já ninguém tem porco na terra.