Ainda miúda, nova, pequena fui trabalhar para o campo. Tudo começava a trabalhar cedo! Não sei que idade, mas ainda era miúda dos meus 10, 11 anos. Ia ajudar os meus pais e os meus irmãos a cultivar o milho, as batatas e os feijões. Mesmo depois da escola, que era de manhã e de tarde, não andávamos na rua. Tínhamos que ir trabalhar. Ajudava a minha mãe em casa. Ajudávamos a fazer o comer, a lavar a roupa, costurávamos, fazíamos as roupinhas para nós e consertava-se. Naquele tempo ajudávamos a fazer o que era preciso.
Também andei a guardar as ovelhas e as cabras. Andei descalça atrás delas aí por essas serras. A gente deitava-as para o mato e tinha que andar a olhar por elas. Elas lá andavam a pastar, a comer do mato. E à noite traziam-se para a loja onde dormiam. Não é preciso ninguém ensinar a guardá-las. A gente vê bem que é preciso ir atrás delas! Se elas fugissem, ia virá-las, fazer voltar de onde elas andassem para ao pé de nós. Mas não se deixavam fugir. A gente não as deixava ir para onde elas queriam. Íamos andando à frente delas e elas iam andando a pastar. Naquele tempo não era perigoso andar com as ovelhas. Não vinham cá pessoas como vêm agora. Ouvia falar nos lobos, mas eu nunca vi nenhum. Diziam que eles, às vezes, quando andavam as ovelhas no mato, vinham aos rebanhos. Vinham, matavam, levavam-nas e comiam-nas! Bem podia haver lobos, mas eu nunca os vi. Nem nunca, na minha lembrança, ouvi dizer que fizessem isso no Piódão.