Hoje, graças a Deus, chegou a luz para toda a gente. Mas antigamente era um candeeirinho, pequenino, com petróleo. Ainda há-de andar, no sótão da minha casa, uma lanterna que se usava com o candeeirito dentro quando a gente precisava de ir à rua. À cozinha também era com um candeeirito de petróleo. Havia uns candeeiros de chaminé e havia outros de lata. Iluminavam-se com petróleo. Tinham uma torcidazinha e a gente acendia. Lembro-me quando cá chegou a luz, mas não fixei a data. Eu dizia sempre que não queria a luz em minha casa. Mas depois quis e gostei. Não houve festa, mas toda a gente ficou contente. Hoje toda a gente tem luz. E, quando veio, as pessoas começaram logo a comprar televisões. Quem tinha dinheiro comprava. Eu, por acaso, não há muitos anos que tenho a minha. Mas nunca fui para casa de ninguém ver televisão. Quando pude comprar a minha, comprei e via na minha casa.
No meu tempo, também não tínhamos água em casa. Íamos buscá-la à fonte. Mas, graças a Deus, houve sempre muita aguinha na aldeia. Talvez há dois anos até houve uma cheia muito grande, que levou muitas coisas “pia baixo”. Até morreu um senhor que não era de cá. Andava aí a passear, a visitar. Mas antigamente não me lembro que viessem assim muitas cheias e que estragassem assim tanto como agora.
As datas não sei, mas lembro-me de fazerem a estrada. Agora há poucos anos é que começou isto dos turistas. Mas antes, se não havia estradas, como é que vinham as pessoas para a aldeia? Vinham a pé e por esses matos como a gente andava? Não. Depois que veio a estrada é que começaram a vir. E hoje há muita gente a visitar o Piódão. Como venham com bem, fazem bem vir visitar.
Claro que agora é tudo melhor que no meu tempo. As pessoas já não precisam de andar a trabalhar como a gente andou e já têm mais subsídios para criarem os filhos. No tempo que nos criáramos, os meus pais nunca tiveram subsídios para mim e para os meus irmãos. Nunca tiveram reforma de lado nenhum, nunca tiveram nada. Hoje é melhor, mas as pessoas que estão no Piódão já é quase tudo de idade e já está quase tudo reformado. Para mim, que já estou velha, tanto me importa que mude a aldeia de uma maneira como mude da outra. O meu dia-a-dia hoje é comer, mas há dias que nem comer posso, e estar na minha casa, porque não posso andar na rua. Há pessoas que me vêm ajudar a fazer as coisas. Vêm as senhoras do Centro de Dia fazer-me as limpezas, porque eu não posso fazer nada agora. Agora para as outras pessoas, se mudar para melhor, está muito bem.