A minha mulher não foi ter comigo. Isso era se eu tivesse fugido, não era? Eu é que a chamei. Ela foi lá porque eu a mandei ir porque se não, não ia. O meu filho tinha 4 anos e a minha filha tinha 2, quando foram para Lisboa, para ao pé de mim. Quando o Marcelo Caetano foi lá para o poder, começou a andar aquilo mais. Eu disse:
- É pá, eu andei toda a vida a trabalhar por conta dos outros. Estou tramado. E a mulher mal empregada.
Coitada, aquilo era ruim, era com discos de travões, aqueles pós com a broca a trabalhar. Por isso é que ela está doente. Então fui trabalhar por minha conta. O dinheiro era para eu saber quanto é que havia de pagar. Não ia trabalhar sem ter dinheiro. O patrão não me dava o dinheiro logo. Iam para casa, iam-se embora e era uma pouca-vergonha. Então fui trabalhar por minha conta. Fui até vir para aqui. Era eu e um sócio. Trazíamos 50 operários. E assim passou o resto da vida.