O mel é a abelha que o faz. Elas são muito inteligentes. Dizem que arranjaram umas colmeias em vidro para as verem a trabalhar mas elas foram mais inteligentes, antes de começarem a trabalhar, barraram-lhes o vidro, é verdade. O meu filho tinha aí umas colmeias, ardeu-lhe tudo, eram de madeira. As abelhas têm uma mestra e é curioso, quando é na Primavera, elas criam muita abelha, põem os ovos e saem muitas abelhas. Se sair uma mestra a mais ou duas, elas têm de se ir embora com uma quantidade delas. É onde saem os enxames. Só pode estar uma em cada colmeia. Mas aquilo é um trabalho tão bem feito que sai dali um mel delicioso. Depois é que se sabe quando elas estão cheias. O meu filho teve azar, não as crestou, não tirou o mel, e depois foi-se tudo embora. Mas o mel tem de ficar a uma certa altura. Se forem tirar tudo elas morrem. No Piódão, o mel ainda é bom, porque não está poluído. Agora já está outra vez a povoar tudo. Há aí um mato que deita uma florzinha escura que lhe chamam a moiteira negral onde os carvoeiros faziam carvão, antigamente, quando eu era miúdo. Eles sobreviviam disso, iam para a serra arrancar aquelas torgas daquela moiteira, faziam carvão, depois vinham homens buscá-lo, carregá-lo com uns machos. Não havia estradas, para sobreviverem, para fazerem alguma coisa. Então esse mato é que é bom para a abelha, sai aquele mel escurinho, bom. Qualquer dia tornam a queimar isto. Já está outra vez tudo a povoar-se.
Mas, antigamente, era mel por todos os lados. A Ermelinda, minha vizinha, passou nas colmeias dela no dia em que elas queimaram, para tirar o mel nesses dias. Mas não tirou, então ele corria, que era uma dor de alma. O mel a correr. Ardeu tudo, tudo. Mas agora já aparecem também malinas nas abelhas e nas colmeias. Está tudo deteriorado. Quando era miúdo, apareciam enxames por todo o lado, que não sabia de onde vinham. Havia no valeiro, nos barrocos, várias árvores: figueiras, cerejeiras, nogueiras, havia tudo. Isto era povoado de uma maneira... Mas veio uma queima aqui há uns 20, 21 anos. E quando já estava tudo mais ou menos povoado, veio outra há três anos. Ardeu outra vez tudo. Foi quando veio uma grande cheia logo a seguir que arrasou com o largo ao pé da igreja. Havia um largo ainda maior do que o que está agora. Chegaram a lá estar 30 e 40 carros. Fazia um jeitão. Depois vem uma trovoada a seguir à queima, há três anos, fez agora três anos em Junho. Nunca cá vi! Começou a enrolar, não foi do volume da água, foi de ter ardido tudo. As pedras ficaram quase soltas, começou a enrolar pedras, cepas de castanheiros e de pinheiros, entupiu as manilhas, o largo foi-se embora. Estavam lá dois carros foram-se embora. Se lá estivessem mais, como já o vi cheio, tinham-se ido embora.