O Piódão significa viver em paz. O descanso. Isso se as pessoas vivessem com o espírito de calma, de se entenderem bem uns com os outros, de não haver guerras. O que é, é que se luta muito pela sobrevivência, porque a aldeia não tem condições, não tem nada. Tem um bocadito de comércio, mas indústria não há, não há nada. E isto foi mercê de um arquitecto que veio ao Piódão, quando já havia as estradas mas ainda muito fracas. Ele começou a olhar e viu as silveiras, com amoras pretas. Havia aí muitas antes de arder.
- “Eh pá, isto aqui dava para fazer uma indústria de conserva de amoras.”
Eu não sei, o homem foi andar por lá pelos Ministérios, por um lado e por outro, por Lisboa, por Coimbra e arranjou de isto ser classificado de Aldeia Histórica. Não tinha luz, não tinha água, não tinha nada. Agora temos tudo, temos saneamento, temos água ao domicílio, temos isso tudo. E a água é boa porque eu vejo às vezes virem aí turistas com garrafas de água. A água cá até temos a melhor. Porque a gente vê na televisão, lê no jornal, pessoas que vão parar aos hospitais intoxicadas com as águas, com a alimentação. Aqui a água é pura, ela nasce ao cimo da povoação, à esquerda, por baixo da rocha. Agora no Verão quando está muito calor, é fresquinha parece que vem do frigorífico. E no Inverno, é o contrário. Quando está muito gelo, vem mornazinha. Vem lá debaixo da rocha. Ali ninguém vai deitar pesticidas. Dizem os antigos, que houve uma altura que esteve sete anos, por uma vez, e noutra vez esteve três anos sem chover. Secou tudo, vinham aqui pessoas, os almocreves, com machos, odres, buscar água para abastecer, para as terras:
- “Ó senhor, dê-me um copinho de água.”
- “Não tenho. Se quiser um copo de vinho...”
As videiras, enquanto não secou a terra toda, davam uvas que derretiam. Aquilo era vinho por todo o lado. E água não havia. No Piódão há uma fontezinha que chamam Fonte dos Algares, que tem uma santinha, nasce ali mesmo. Só está aquele cano a deitar para fora porque nasce lá mesmo ali encostado. Aquilo é ao lado da rocha. Aquela é que é boa. Não é como aquela que a gente bebe de um lado para o outro.