Os meus pais eram Artur Nunes Santos Oliveira e Felismina de Jesus de Oliveira. Conheceram-se aqui na Benfeita. Eram de cá. Depois casaram e tiveram três filhos. Eu sou a mais nova. A minha irmã tinha mais cinco anos que eu e o meu irmão tem mais três. A minha irmã mais velha já faleceu. Estou cá eu e o meu irmão.
O meu pai, primeiro, teve comércio. Depois, pronto, não deu, faliu ou não sei e foi para África. Precisava de ganhar a vida, com certeza. Eu tinha 4 anos. Esteve em Moçambique 14 anos. Foi sozinho governar a vida. Lá, era padeiro, empregado do João Ferreira dos Santos. Ele já tinha sido aqui também. A minha mãe ficou cá com os três filhos. Ela é que nos criou até ele vir. Ele ainda veio cá duas vezes de férias para o pé da minha mãe e dos filhos. Depois voltou. Quando casei, já ele cá estava. Veio outra vez para cá e tornou a pôr o comércio, uma lojinha. Tudo pequenino. Vendia mercearia. Ia comprar a Arganil. Traziam-lhe cá os Morgados de Arganil. Agora, ultimamente, era a Havanesa de Côja que lhe fornecia. Depois, ficou para a minha irmã.
A minha mãe trabalhava na agricultura, coitadinha. Trabalharam sempre. Tinham muitas fazendas, que hoje está tudo silvas. Cultivava o que se cá comia: milho, feijão, batatas... Chamavam naquele tempo - não sei como é que agora lhe chamam - centianinho e trigo para pôr aquela farinha na broa. Centianinho é um produto de cereal, como o trigo e como o centeio, como esses cereais.
O ambiente em casa era bom. Foi sempre bom. Tinha uns pais muito bons. Até eu ir para África. Depois, continuou. Depois de eu estar em África, a minha irmã ficou viúva e ficou com os meus pais.