“Até fazia as mãos em feridas vermelhas”

A escola era lá adiante ao pé da igreja. Era uma escola assim pequena. Só andei na primeira. Aprendi pouco, só da primeira para a segunda não podia saber muito bem escrever, nem ler. Escrevia-se numa pedra com lápis de pedra. Depois era também nos cadernos. Eu lembro-me. Aquela escola ardeu, mas mesmo que não ardesse não podia trabalhar. Já não havia alunos que chegassem. Já havia pouca gente.

Era uma professora. Naquele tempo não paravam cá as professoras. Ela ditava e a gente escrevia. Eu gostava dos ditados. A professora não ralhava com os meninos, só quando calhava com aqueles que eram maus. Era rapazes e raparigas. Esteve aí uma que batia, batia. Tantas reguadas eles levaram naquelas mãos. Até fazia as mãos em feridas vermelhas. Eles não faziam o que ela mandava e depois levavam. Senão não aprendiam.

Enquanto andava na escola ia para o campo, ainda trabalhar, guardar o gado. Umas vezes era mais perto, outras vezes era mais longe, conforme. Levava as cabras e as ovelhas.