Fui para o Alentejo. A gente dizia que era nas invernadas. Cada invernada durava nove meses e ganhávamos só 100 escudos, cada mês. Era cavar nas vinhas, ceifar trigo e centeio, cortar cachos e apanhar a azeitona. Era tudo o que era preciso e 100 escudos cada mês. Era pouquinho então! E é uma vergonha, que tinha lá fruteiras e nem a gente podia comer uma peça de fruta. Andava um guarda lá ao longe com uma roçadoira ao alto. Se alguém mexia nalguma coisa apanhava. A gente nem mexia, já sabia. A gente trabalhava, trabalhava e não ganhava, a bem dizer, nada.