A minha irmã e o meu irmão nasceram numa casinha que era do meu avô. Quando os meus pais se casaram foram para lá viver. Depois, o meu pai comprou aquela casa do poeta Simões Dias, onde hoje é o museu. Nasci na casa do poeta. O andar de cima era a cozinha, a sala e um quarto. O andar de baixo tinha outra sala, uma despensazinha debaixo das escadas e dois quartos. Não tinha casa de banho. Onde é que havia casas de banho? Não havia naquele tempo. Primeiro, não tinham. Eu mais o meu irmão dormíamos no andar de baixo. A minha irmã dormia com a minha mãe no andar de cima. Ainda caí por as escadas abaixo. Vinha a dormir da cozinha, com certeza, e deixei-me cair. Para descer as escadas, em vez de as descer, fui por elas abaixo. Outra vez, foi nas escadas do sótão para a cozinha. Era pequenita.
Depois apareceu uma casa ao lado ali ao pé do Posto Médico. O meu pai vendeu aquela a um tio meu e comprou a outra. Fui para lá com 9 anos e estive até aos 21, até me casar. Era uma casa melhor e maior. Era muito grande. No andar de baixo, tinha a casa de banho, um quarto e uma sala. Depois, no andar de cima tinha quatro quartos, duas salas, a cozinha e outra casita de banho, que o meu pai mandou fazer ao pé da cozinha. Quando se comprou, não tinha casas de banho. O meu pai é que depois as mandou fazer. Como esteve aqueles anos todos em África, vinha habituado a tomar banho todos os dias. Primeiro, fez aquela casita de banho no sótão, ao pé da cozinha. Era só a bacia de lavar a cara e a sanita. Nem o bidé lá cabia nem nada. Depois já pôs um chuveiro. Puxávamo-lo com uma roldana. Era assim um balde, um alguidar, uma bacia muita grande, que comprou, tinha um chuveiro e depois a gente puxava com a roldana para tomar banho. Depois de eu estar em África, fez a outra casinha de banho, onde chamam o andar de baixo. Até mandou dizer para lá:
- “Já temos outra casa de banho para quando vocês cá vierem.”
A primeira vez que cá viemos de férias, fomos para casa dos meus pais. Já trouxe a minha filha com 7 anos. Então, quando fez a outra casa de banho, mandou-nos essa notícia:
- “Quando vocês cá vierem, já cá têm uma casinha de banho melhor para tomar banho.”
Mas ninguém tinha aí essas coisas. Ninguém. Depois é que começou isto a evoluir e a ser melhor. E hoje é muito bom.
Depois, essa casa ficou para a minha irmã. O meu marido construiu a minha e aquela ficou para a minha irmã. Hoje é do meu sobrinho, do filho dela.