Isto aqui estava tudo divididinho até ao alto da serra. Parece mentira, mas é verdade. Estava dividido com pedras, que a gente chama os marcos. As pessoas respeitavam-se uns aos outros. Lá havia um ou outro - há em todo o lado - mas a maior parte respeitava. Se a gente, na extrema, tivesse uma moiteira que desse metade para um lado e metade para o outro, chegava lá roçava a metade dele e deixava a outra metade para o vizinho. Cada um sabia o que era dele. Respeitavam o que era dos outros.
Pagávamos contribuição disto. No fim do ano, a uma certa altura, mandavam as contribuições lá de Arganil e a gente tinha de ir daqui até lá levar o dinheiro. Não produziam dinheiro, mas naquele tempo o sistema era assim. Se a gente não fosse pagar, perdia a posse dos terrenos, porque eram muito disputados. Era o tal valor. Havia pessoas que tinham outras ocupações. O meu irmão era pedreiro. Andava a fazer as casas aí para os outros. Já tinha ordenado. Agora nós que era a cavar, íamos cavar para mim, depois, para a semana, era para outro. Outro dia, era para outro. Não havia dinheiro, havia pouco. O que a gente fazia era disso.