Nas terras, a gente cultivava a batata, o feijão, o milho, essas coisas. O que tínhamos mais era milho. Era a principal alimentação. Depois, vinha a altura de apanharmos o medronho e fazer a aguardente. A gente estimava os medronheiros, porque aquilo era uma fonte de receita e bebíamos muita aguardente. Fazia as pessoas rijas e fortes. Não havia muita abundância, mas pronto. No tempo da azeitona, apanhávamos e fazíamos o azeite.
A gente apanhava frutas, também. Tinha para aí muita. Havia ameixa de toda a qualidade, maçã, pêra, pêssego... Não se curava nada. Os pessegueiros, era só a gente agarrar e pô-lo para a ponta de um cômoro. Daí por três, quatro anos, começava a dar pêssegos. Dava a nossa vida toda. Comíamos os pêssegos todos. Havia muita fruta naquele tempo, mas ninguém vendia. A que se comia, comia, a que não se comia, estragava-se. E estragava-se mais que a que comiam. Ia alguma para os porcos. Só mais tarde é que já começou a haver uma abertura para a venda da fruta.
Cultivávamos vinho. Havia as leiras para cultivar, mas na ponta dos cômoros havia um corrimão de videiras, que eram sustentadas com madeira de castanheiro. A vinha dá sempre muito que fazer, porque é preciso podá-la e atá-la. Naquele tempo, não se curava. O meu pai nem máquina de sulfatar tinha. Mas era preciso tirar-lhe a folha para entrar o sol para o cacho. Ainda tínhamos muito vinho. A gente tinha aí uns 50 e tal almudes para a casa.
Vinham as castanhas, a gente ia apanhá-las. Havia muita abundância de castanheiros. Eles cortavam os castanheiros todos, logo que dessem madeira. Logo que estivessem bons, cortavam-no. Depois, das pernadas aproveitávamos para fazer corrimões das videiras e arranjar os tacões. Era tudo aproveitadinho. Era uma ocupação.
Tínhamos que fazer as searas. No Verão, cortava-se o mato e os giestais, principalmente, e deitava-se o fogo. Aí pelo princípio do Inverno, logo que viessem as águas novas e começasse a chover, semeava-se o centeio. As águas novas eram quando no fim do Verão começava a chover. Havia humidade no solo para conservar a sementeira do centeio até o ceifarmos lá para fins de Junho, princípios de Julho. Era uma grande ocupação que a gente tinha, nessa altura.
Também tratavam dos animais. Criavam porcos e tinham rebanhos de ovelhas e de cabras. Do leite, faziam o queijo. Era para sustento da família e para vender também. Lá se vendia um queijo, uma rês, uma ovelha ou uma cabra, o que fosse. Era preciso fazer algum dinheiro. Também tínhamos a exploração do carvão. Arrancávamos as cepas todas por essas serras fora. Nessa altura, não havia pinhal. Havia torgas aí. Fazíamos carvão para as fábricas da Covilhã e de Coimbra. Era isto que a gente fazia.