Tínhamos essas barrocas cheias de castanheiros. Não sei se milenares, mas muitos centenários. Tínhamos aqui um, que tinha uns quatro metros de diâmetro. Ficava por cima do Posto Médico. Eles iam cortando as pernadas dos castanheiros. Logo que dessem madeira, cortavam. Depois, rebentavam outros. Nos castanheiros, anda a seiva por fora. Ao poder dos anos, dos séculos, vai ficando a madeira seca por dentro. Eles iam “estabucando” o castanheiro por dentro para queimarem os cavacos que iam tirando. Tinham tirado a lenha seca, os cavacos secos e a seiva a trabalhar por fora. Num fizeram uma toca de tal ordem, que pelas pernadas tinha entradas. A gente entrava por aqueles buracos. Chegámos a lá estar quatro e cinco bancadas de miúdos a jogar às cartas, escondidos dos pais. Os pais não queriam que a gente jogasse às cartas, que aquilo dava vício e era mau. A grandeza do castanheiro. Era uma coisa enorme. Não era alto e grande porque eles iam-no cortando. Já estava a morrer. Ainda tinha pernadas dos lados, mas ficava a morrer. Por dentro era uma toca enorme. E a gente ia para aí. Agora ardeu tudo... Havia aí centenas e centenas de castanheiros. Quando foi do primeiro fogo, foram logo uma quantidade deles. Agora, neste último incêndio, foi o resto.