Quando regressei, o Piódão ainda não estava assim muito mudado. Ainda havia aí muita gente, muita mocidade. Umas 20 e tal raparigas. E muitos rebanhos. Para cima de 20! Ainda havia esses dias de ajuda, esses trabalhos e essas coisas todas. Não achei muita diferença. Já se achava assim uma falta, mas não era muita. Agora, é que foi rápido. A emigração foi em massa. Saiu tudo. Das raparigas, só ficaram aí umas solteironas. O mais foi tudo embora. Tudo se mudou e tudo ficou abandonado de um dia para o outro. Já só há aí duas ou três pessoas que têm umas cabritas, mas coisa pouca.
A esperança - muitos não aceitam - é realmente a iniciativa dos Compartes. Eu apoio-os e à iniciativa que tiveram, porque é a única maneira de ver se isto tem alguma rentabilidade. De resto, eles falam, mas ninguém lá vai buscar nada. A mim, ardeu tudo. Não vou lá buscar nem o valor de um tostão. Nada! O ano passado quanto apanhei foram umas nozes. Este ano até as nogueiras já secaram. Há um tempo, veio uma malina e elas desapareceram. Os Compartes até já conseguiram arranjar a brigada dos sapadores. Estão lá as pessoas empregadas. Há aí uns empregos. E se puserem uns rebanhos, já trazem aí para baixo, para a ribeira e lá para cima. Andaram a fazer o cabril. Talvez seja uma das maneiras de haver alguma coisa para utilizar este terreno. Senão, ficava aí sem préstimo nenhum, porque ninguém lá vai buscar nada. Lenhas, não precisam, que agora é o gás. O carvão não dá nada. Pinhal leva muitos anos a criar e o fogo cada vez que vem, queima tudo. Se andar lá o gado, vão comendo o mato e não há tanto perigo de haver incêndios ou podem ser melhores de dominar. Também abriram os estradões para pôr as vedações. Isso já dá acesso para que se possa combater melhor os incêndios, caso apareçam. E vão plantando árvores. É a maneira que vejo de dar utilidade a isto. Senão, isto não tem utilidade nenhuma. As pessoas abandonam isto tudo. Cria-se mato. Mesmo que haja um ou outro que queira ir à sua propriedade, não pode passar na dos outros, porque está cheio de silvas e mato. Quanto a mim, acho bem. Vamos lá a ver se estão a pensar em fazer queijo e carne. Seria uma coisa que vinha criar postos de trabalho.