Depois, deu-se o 25 de Abril. Para mim foi mau. Lá, a Revolução meteu-se em força. Era uma empresa grande e boa, mas a cobiça da Revolução estragou aquilo tudo. Eu não digo que foram comunistas, nem que foram UDP's, nem que foram isto, nem que foram aquilo. Foi a má orientação da malta toda e de quem quis destruir a empresa. E destruíram. Aquilo parou. Deixaram de pagar. Andaram ali às voltas até que assentasse lá a política. Eu, de política, não percebo nada, mas, pronto, ia atrás da marcha. Vim com a reforma antecipada. Saturaram e massacraram tanto a gente, que a gente já não sabia como é que se havia de ver livre daquilo. Deram essa oportunidade: quem quisesse, vinha com a reforma antecipada. E eu caí nessa esparrela... Foi uma grande aselhice. Depois é que foi o bonito. Chegou a altura da reforma antecipada e não havia dinheiro. Não pagavam, nem me davam baixa, porque não consideravam doença. Não havia mais nada. Não recebia nada de lado nenhum. Por isso, vim para aqui. Vinguei-me aqui a trabalhar e lá fui vivendo. Mas não havia dinheiro. Foi um mau bocado que eu passei. Mas o mais bonito que me aconteceu foi depois. Eu havia de ter passado para a Caixa Nacional de Pensões. A Caixa da CUF tinha muito dinheiro, mas abriu falência. Mandaram os dados para a Caixa Nacional de Pensões, mas não mandaram dinheiro. Eu meti os papéis para a reforma. Chegou à Caixa Nacional de Pensões, não tinha lá descontos nenhuns. Não tinha e não tenho! Deram-me naquele tempo a reforma mínima. Havia uma lei que lá os revolucionários do 25 de Abril tinham posto, que não podiam dar menos de 7 contos e 500 de reforma. Foi essa a reforma que apanhei. Vim por aí fora. Fui lá mexer naquilo... nada. Ninguém dá saída a nada. Graças a Deus, comer não me faltou. Mas psicologicamente isto bota a gente abaixo. Tantos anos de trabalho, tantos anos de luta e depois a gente vê-se assim...