O Natal era um dia como os outros. Mas a fogueira do Natal, essa faziam-na sempre! Agora fazem no largo do Piódão, mas antes era na Capela de São Pedro. E eu ainda acendia muita vez à minha porta. Então, iam buscar lenha e, pumba, faziam uma fogueira e uma patuscadazita com carnes ou bacalhau. Servia para a rapaziada se juntar, se distrair, para brincar e conviver na boémia. Nesse tempo o Natal era em casa, mas conviviam as famílias umas com as outras. Quando era pelo Natal, pelo Ano Novo reuniam as famílias e conviviam mais que agora. Agora não, é mais individualismo. Houve uma altura que esteve um padre a residir na freguesia e celebravam a missa à meia-noite. Mas foi pouco tempo. Depois já não celebravam a missa do galo. E agora também não, porque o padre não está no Piódão.
A Páscoa é comes e bebes como o Natal. Lá se juntam mais os familiares que vêm, às vezes, de Lisboa, mas é um dia como os outros. Na Quaresma ainda faziam a Via Sacra nos sete dias da semana. Acendiam-se, salvo erro, 14 imagens que estão na igreja e em cada imagem faziam uma paragem e rezavam a parte que pertencia àquele santo. Acho que foi só uma vez que houve um padre que lavou os pés aos homens da aldeia para imitarem Jesus Cristo, mas não era tradição do Piódão. Depois, no Domingo de Ramos, levavam uns ramos à igreja. Quando era no dia 3 de Maio - Dia de Santa Cruz - iam colocar esses ramos bentos nos campos e nas searas. Faziam umas cruzes e até havia pessoas que punham também na padieira da porta das casas. Diziam que era para proteger das trovoadas e não sei quê. Tinham aquela crença que as trovoadas não atacavam tanto nas colheitas. Umas vezes resultava, outras vezes não.