Estava eu na Pampilhosa da Serra, na Rua dos Remédios, onde a gente ia almoçar, e perguntaram-me se eu queria ir para o Norte, para trabalhar nas feiras. E eu fui. Estive lá quatro anos. Isso foi em 1968 ou 1969, mais ou menos. Fui para Penafiel fazer umas feiras. Tínhamos feiras de ano, pelo menos. Fazíamos Mesão Frio, fazíamos Lousada, corríamos aqueles concelhos todos, por ali fora. Vendíamos roupa, quinquilharias, mas o meu forte eram os santos. Quando não tínhamos feiras, íamos vender santos pelas portas. Dava melhor até ir vender às portas. E então facilitávamos, ficavam a pagar um tanto por semana, deixávamos o quadro e eles ficavam a pagar o resto a 5 escudos por semana. Era a prestação para vender os santos às portas. Nas feiras era tudo pronto pagamento. A escolha dos santos era conforme o cliente. Umas queriam este, outras queriam aquele. Eu tinha todos. Tinha santos para todas as idades. Nem que, às vezes, se pintasse por outro nome. O que se vendia às raparigas solteiras, quando estavam com os conversados, era logo um quadro que se chamava o Amor de Mãe. Agarravam, ficavam logo com ele. Mas o que mais se vendia era a Ceia de Cristo, o Coração de Jesus e de Maria. Esses eram os mais preferidos. Depois havia um que era António, queria o Santo António. Outro, porque era Pedro, queria o São Pedro. A gente arranjava logo. Se não tínhamos nessa altura, íamos depois entregá-lo. Por exemplo, havia uma feira em Felgueiras e há lá uma aldeia que o patrono era o São Jorge. O que mais lá vendia era o São Jorge. Então, levávamos sempre uma grande quantidade daquele santo. E assim noutros lados, onde era o padroeiro, levávamos sempre mais daquele. Depois vendíamos muito pela Páscoa, vendíamos sempre mais.
Nós emoldurávamos os santos em casa. Comprávamos e cortávamos o vidro. Vendíamos conforme podíamos. A pronto pagamento era um preço e a prestações é que era preço fixo. A prestações era 100 escudos. Ora nós nas feiras vendíamos a qualquer preço porque o trabalho era inferior. A estampa era quase igual, só a moldura é que era diferente. Ainda tenho um santo que já tem 50 e tal anos.