Nestas terras comia-se o que havia. Batatas, feijões, arroz, massa. A mesma coisa que se come agora. Sardinhas, andavam as sardinheiras por aí pelas ruas a apregoar. Era mais a sardinha.
Nesse tempo matava-se muitos porcos. Quase toda a gente tinha um porco e matava. Agora é o talho, mas antigamente as pessoas criavam os porcos, matavam e tinham. Sim, porque um porco dá que comer. Aquilo que é toucinho, eu agora até me agonio quando falo nele, é aquela carne branca. Aquela que é toda branca, chama-se toucinho. Isso antigamente tudo se comia. Agora já não. Agora já ninguém come toucinho. Era uma vida diferente. Tinha que se aproveitar e se comer tudo. E havia saúde e agora não a há.
Quem matava dizia aqui, ou além, ou à outra:
- “Olha vai-me lá ajudar a segurar o porco.”
Deitavam-no em cima de uma bancada e ia o matador, matava o porco e sangrava-o. Depois de sangrado, primeiro chamuscavam-no para lhe tirar aquilo tudo. Estava até à tarde e depois era desmanchado. Eles faziam das carnes do porco o que queriam. Faziam os enchidos, faziam as febras, arranjavam. Faziam muitas carnes e mais chouriços. No lugar de fazerem menos, faziam mais, porque aquelas carnes depois estragavam-se. Tinham que fazer. Eles não deixavam estragar nada, ou punham em frigoríficos, ou secavam os presuntos.