As Janeiras iam-se pedir. A gente ia:
- “Olhe, dê-me as Janeiras.”
Andava-se por aí. Uma dava uma chouriça, outro dava umas castanhas, outro dava outra coisa... No dia de Reis também.
- “Dê-me os Reis!”
Iam-se pedir as Janeiras e os Reis. Cantávamos. Depois em vez de ser a cantar era a falar. Era recitar. Era:
- “Serrico, serrico que esta casa seja bem rica.” - Quando davam.
Quando não davam:
- “Serrão, serrão que esta casa caia ao chão.”
Pelo Carnaval as pessoas também se divertiam. Vestiam-se. Por exemplo, os rapazes vestiam os fatos das irmãs. Pegavam, iam lá tirar os fatos, depois tapavam até com uma meia ou coisa assim, para não o conhecerem. Uma ocasião em Lisboa, mais o meu irmão também me vesti assim de Carnaval, vesti o fato da minha irmã, saia e casaco, um bocado de rouge na cara e fui até Belém. Mas cá fazia-se muito isso.
Depois é como digo, isto pela Páscoa era sempre bom porque era os folares. Havia estas tradições assim. O Domingo de Páscoa para mim foi sagrado e ainda hoje eu vou dar as boas festas. O senhor padre tem mais freguesias, não pode andar a dar as boas festas e eu vivo muito, vivo muito a visita pascal. Eu vou, com todo o respeito, vou fazer a vez do senhor padre. Com duas lanternas, vai a cruz, vai uma pessoa para depois levantar o folar. O folar era para o senhor prior, mas agora tem ordenado. A Igreja faz-lhe um ordenado. Então é da comissão da Igreja, é da côngrua do folar que fazem o ordenado. Eu pela Páscoa vinha cá e ia depois buscar o folar. Os meus padrinhos, na altura, davam-nos um pão de trigo, duas ou três amêndoas e a gente todos contentes.