Eu às vezes ia lá, chegava a lá estar aos oito dias quase, na Fórnea.
Havia um casal que vinha da Fórnea. E um dia estava a nevar, nevava bastante e na serra já devia dar por cima do joelho talvez. Eu ia ajudar à missa, era o senhor padre Ilídio dos Santos Portugal. Ele disse:
- “Francisco, vai acender as velas. Vamos começar a missa.”
- Senhor prior, esperemos um bocado porque está a nevar. Na serra neva muito e aqui ora neva, ora que está de chuva. Na serra está alta. Ele vem e depois chega cá e não assiste à missa e fica com pena. Ora fosse eu.
E diz ele assim:
- “Olha tem juizinho nessa cabeça! Então algum dia assim ele vem?”
- Olhe a senhora Inocência é capaz de não vir, mas o senhor Augusto vem. Olhe que ele vem.
Ele hoje tem uma filha, que é Maria que é ministra da comunhão também, pessoa com muita fé, com verdade.
E diz ele assim:
- “Ó Francisco ele assim não vem, não vês que a neve lá está alta? Aqui é menos, mas na serra dá-lhe por cima dos joelhos de certeza.”
- Olhe que ele é capaz de vir.
Pronto ele teimou e eu fui para acender as velas, mas não fiz de propósito, só sei que aquilo vinha nuns solitários altos em vidro. Havia quatro: dois grandes e dois mais pequenos. Era no altar do Coração de Jesus. Eu quando vou para acender, caem os solitários cai tudo. Caiu tudo e alguns ficaram deitados. Espalhou-se tudo e houve um que ficou deitado em cima do altar. As flores caíram e a água entornou-se. Eu ali vi que houve uma mão misteriosa.
- Olhe senhor Prior, espere mais um bocadinho. Caíram as flores todas e caíram os vasos, os solitários. Caiu tudo e está tudo espalhado.
- “Como é que fizeste isso?”
- Olhe, fiz como das outras vezes. Eu ainda não tremo e eu fui para acender. Olhe, quando dei conta caiu tudo. Não ficou lá nenhum. Olhe que está tudo espalhado.
Fui chamar a irmã dele, a Mariazinha e era uma prima minha, chamada Nazaré. Elas lá foram, juntaram as flores lá estiveram a pôr. Alguns entornaram-se, mas não se partiram. Lá as apanharam, lá compuseram aquilo. Vá lá que as toalhas não se molharam, se não tinham que pôr outras. Quando estavam prontas eu disse:
- Pronto, olhe agora já estão prontas se quiser esperar mais um bocado.
- “Ah, Francisco não te disse há pouco? O senhor Augusto não vem.”
- Vamos a ver.
A acabar eu de chegar ao altar, o homem a entrar pela porta de baixo. Trazia uma capa grande. Antes tinha uma grade grande em baixo, passou a grade, correu a água que eu no fim da missa fui apanhar com um pano. Mais de meio de água. Eu apanhei com um pano e espremia. E eu disse:
-Ó senhor Augusto, vá agora a minha casa e veste o fato do meu pai, enxuga-se esse e toma um café quente. Fica a enxugar e levo-o ao domingo.
- “Não, agora estou molhado. Agora começou a chover, a neve agora já derreteu mais.”
- Faça isso! Ande lá! Olhe que o meu pai até fica contente. Faça isso.