Na véspera de Natal, os rapazes e as raparigas faziam uma fogueira grande no largo e juntavam-se lá todos. Era uma festa toda a noite, porque era só uma vez no ano. Depois cantavam os versos do Menino Jesus e as Janeiras também. Em casa, era cada um conforme podia. Mas faziam-se sempre as filhoses e outros bolos. As filhoses fazem-se assim: deita-se um bocadinho de água morna para depois serem melhores de mexer. Havia quem pusesse só ovos. Mas quem tinha poucos ovos, as pessoas mais pobres, às vezes, punham menos ovos e deitavam um bocadinho de água morna. Põe-se também a farinha, farinha de trigo, e fermento. Depois é que mexiam tudo. Agora já há quem faça assim de outra maneira, mas antigamente era com as mãos que se amassava. Então, estavam as mãos bem limpinhas, bem lavadinhas, e as unhas também, ficava tudo bem na mesma. Depois tiravam-se com uma colher, começavam-se assim a estender e eram fritas. Começavam a crescer e depois virávamos. No final, havia quem pusesse açúcar e quem não pusesse. Sempre houve pessoas que não podiam comer com açúcar. Para essa gente de dieta, tinha que ser de outra maneira, tinha que ser só a farinha. Mas quase sempre púnhamos açúcar: há quem ponha na massa e havia quem pusesse por cima das filhoses só um bocadinho de açúcar com uma colherinha.
Nesse tempo, cantavam também as Janeiras:
“Menina que estás sentada
Num banquinho de cortiça,
Venha-me dar as Janeiras,
Ou arrecade-me a chouriça!”
E quem tinha, dava a chouriça. Eu era muito envergonhada e nunca fui pedir as Janeiras. E a minha mãe também não gostava que a gente andasse a pedir. Dizia-nos sempre:
- “Eu não quero que os meus filhos andem a pedir! Olha que, graças a Deus, tendes cá em casa. E quando vos apetecer comer alguma coisa dizei, porque eu faço. Não andeis por aí a pedir nada a ninguém.”
Aquilo era uma brincadeira, mas a minha mãe não deixava. Mas, se tinha, também dava.