Fui à escola, mas só fiz a segunda classe. Depois já a minha mãe teve os meninos gémeos, tinha a vida dela toda para fazer, e eu tinha de ajudar. Lembro-me que tínhamos uma professora muito boa e que ensinava muito bem. Chamava-se Isabel. Não nos batia muito mas, às vezes, levávamos com a régua. E, para alguns, tinha que ser mesmo assim, senão não havia respeito. Também se deixasse fazer tudo que eles queriam, não fazia nada deles. Não era sempre mas, às vezes, lá vinha um dia em que se demoravam mais tempo lá fora e tinha que ser mesmo. Mas até era bem para eles.
Houve um dia que a minha mãe andava no campo e não me fez as tranças. E eu também não fiz a trança. Deixei o cabelo solto e fui para a escola. Mas o meu cabelo calha que me chegava à cintura! Era muito grande. Então, a professora ralhou comigo:
- “Se assim queres trazer o cabelo, se não queres fazer a trança, corta o cabelo!”
Bem, ela não ralhou, mas deu-me assim este raspanete:
- “Então, tu sabes que tens o cabelo muito grande, até à cintura... Até é melhor de pentear!”
Nessa altura, as outras todas levavam o cabelo cortado. Mas eu dizia para a minha mãe que não queria cortar e que queria o cabelo até à cintura. Mas depois ela teve mesmo que mo cortar.
Depois tive que sair da escola porque a minha mãe tinha os meninos e estavam em primeiro lugar. E também esteve um tempo sem vir professoras ao Piódão. Mas, graças a Deus, sei escrever uma carta, sei ler e gosto muito de ler. Só isso já foi bom! Já dou graças a Deus por a minha mãe me poder ter na escola. Eu sentia-me infeliz se não soubesse ler. Então, quando era preciso uma coisa qualquer, ter que ir a uma vizinha para mandar ler e escrever uma carta...