Na Páscoa, serrava-se a velha. Era assim: chegava ao pé de uma velhinha com uma pinha e uma cortiça, chamavam das portas para a capela de São Bartolomeu. A pessoa se gostava da farra, entrava na farra. Aquelas que não gostassem era pior. Eram as que eram mais serradas. Depois lia-se o testamento. Fazia-se um testamento da velha, a herança dela. Isso era a coisa mais gira que eu achava mais graça. Eu naquele tempo era muito judia, achava uma graça. Serrou-se a velha a uma senhora, quem estava a ler o testamento foi para cima do muro e depois lia o testamento e dizia assim:
- “Deixo à minha vizinha fulana de tal por ela ter muita vaidade, o chapéu da aba larga para passear a cidade. Ao meu vizinho fulano que é um grande mariola, para se lembrar da Lala deixo-lhe a minha viola. À minha vizinha padeira para se lembrar de mim deixo-lhe a minha dentadura para rapar a masseira.”
À outra deixava-lhe a língua para ela falar na praça. Eram os rapazes, homens divertidos. A um deixou-lhe as cuecas de renda. Era assim que eram os testamentos. Nesse tempo achava tanta graça a isso. Aquelas que apareciam e entravam na farra, já não liam o testamento. Mas aqueles testamentos eram muito engraçados. Eu achava muita graça.