Na matança do porco, estando bons para se matar, mandavam-se matar. Havia cá quem os sangrasse.
Tinha de dar para todo o ano. Fazia-se bocados. Não ia para o gelo como agora vai. Salgava-se numa salmoeira. Numa arquita pequena. Salgava-se com sal e tapava-se bem a tampa para não irem para lá as varejeiras. Cada dia se tirava um bocadinho. Comia-se branca e tudo. A gente chamava os cobros. Era aquela carne que se tira o lombo por cima e fica a carne branca por baixo. Era uma carne mais gorda e já se botava menos azeite na sopa. Até dava cheirinho na rua porque os porcos eram criados com a farinha. Agora criam tudo aquilo depressa, à base de rações.
O porco também dava para fazer enchidos, os chouriços. Primeiro aproveitava-se a tripa dos porcos. Ia-se para a ribeira lavar. A gente despejava-as e lavava-as bem lavadas com sal, botava-lhe folhas de castanheiro e botava-lhe pedras. Tudo bem lavadinho e depois enchia-as com carne. Migava aquela carne mais gorda.
Fazia-se farinheiras, morcelas, que eram aquelas chouriças pretas. O sangue era para fazer essas morcelas e também se cozia. O que coalhava cozia-se numa panela. Dava para comer também. No fim separava-se os presuntos do porco. Vendiam-nos para a ajuda do outro porco que se comprasse.